Há tempos a crise não parecia ser tão grave, tão catastrófica, tão punitiva, com tanto desemprego e miséria.

A riqueza colectiva oscila muito nos tempos que correm. Tão depressa nos dizem que vamos bem, a crescer, com sustentabilidade e com anúncios próprios de economias de primeiro mundo (Aeroportos, TGV, Auto-estradas, Magalhães para todos), como nos alertam para a redução das reformas para metade, a médio prazo.
Dá que pensar. Sabemos que não se apagam incêndios com copos de água, como não se ultrapassam crises de dificuldades sérias com um mero “encosto de barriga”, como que a empurrar para a frente, problemas estruturais e não meramente conjunturais. Sabemos que só nos primeiros dois meses do ano as Bolsas mundiais perderam 1/5 do seu valor – quando se pensava que já não havia margem para novas quedas – e sabemos hoje ninguém nem nenhum sector estar a salvo das derrocadas.
Quando há tempos escrevemos sobre esta crise, alguns acharam que exagerávamos na previsão dos seus efeitos. Têm razão: enganámo-nos redondamente. Os anúncios reiterados de que tudo estaria bem neste nosso “torrão” (pelo menos até às eleições legislativas) levaram-nos ilusoriamente a pensar que não seria tão grave, tão catastrófica, tão punitiva, com tanto desemprego e miséria.
Sabemos hoje, de um dia para o outro, que os actuais trabalhadores vão ter metade das pensões de reforma dos actuais reformados. Como por acto de magia – negra, diga-se de passagem – as pensões do futuro vão corresponder a 54% dos últimos salários auferidos, quando hoje corresponde a mais de 90% do salário. Dá para pensar.
De um momento para o outro, as pensões caem para metade do valor, o que deita por terra todos os sacrifícios feitos, todos os esforços e toda uma vida de luta e de muitos impostos e descontos.