Depois da tragédia grega, avizinha-se um período difícil, também, para a generalidade dos portugueses, em que sacrifícios impensáveis lhes vão ser exigidos a troco de nada.

O ano de 2010 terminou e canta-se vitória por se ter atingido um défice de apenas 7,3% do PIB, ou seja, por só faltarem cerca de 12 mil milhões de euros nas contas.
Ora, desde que haja défice, desde que as receitas sejam negativas, como é o caso de todos estes longos e penosos anos de governação, afastamo-nos da necessária consolidação orçamental e dificilmente deixaremos de ser penalizados por tal. Quem nos penaliza? Os mercados, esses agentes impiedosos, sem alma nem coração que se uniram para nos encostarem a uma miserável sobrevivência, qual exército de malfeitores que não descansarão enquanto não nos arrancarem couro e cabelo.Diabolizámos os “mercados” e redirigimos-lhes as “culpas” da nossa desgovernação. Pagamos juros da dívida soberana a mais de 7%, e sem o desejarmos respiraremos de alívio quando o FMI nos aliviar esses mesmos juros.
Aos sucessivos e acumulados défices seguiram-se reforços do endividamento ao exterior e neste momento em que as taxas de juro nos obrigam a “ajoelhar” continuamos impávidos e serenos, a cantar vitórias perante péssimas execuções orçamentais.Pelo meio, levanta-se a bandeira da salvação do Estado Social, ao mesmo tempo que se retiram comparticipações de medicamentos, o abono de família e os benefícios fiscais às famílias ou se aumentam as taxas moderadoras e todos os bens indispensáveis à vida dos portugueses.
Se por um lado se afirma estarem a ser tomadas medidas de salvaguarda do Estado-social, o certo é que se sente cada vez mais que este deu lugar a um Estado-predador, que engole a classe média com a força da carga fiscal e contributiva.
Perante este verdadeiro estado das coisas, a vinda do FMI será inevitável e este sacrifício colectivo de milhares de vítimas vai continuar, empobrecendo milhões de portugueses em cada novo ano desta forma de governar. Perante este cenário, falar da Bolsa, nem chega a ser assunto.