Se a deflação for algo duradouro, não vai ser fácil viver com este novo cenário, que no limite, nos levará a ter saudades dos tempos em que os preços subiam.

Ao nível das finanças públicas, muitas das preocupações passam por manter a inflação controlada, sendo admitidos aumentos anuais dos preços que não ultrapassem os 2 a 3%. Também o Banco Central Europeu tem, no seu mandato, rígidas preocupações com as subidas dos preços e usa de toda a sua força para as limitar.
Países com sérias dificuldades económicas vêm lutando contra a odiosa inflação, que envolve perda do poder de compra, aumento do custo de vida, desvalorização do dinheiro e anulação dos juros dos depósitos bancários, quando as taxas de juro ficam muito abaixo da inflação. O Brasil conheceu bem esse problema e actualmente há países adiados que sofrem com inflações anuais absolutamente impensáveis – o Zimbabué, por exemplo -, tornando a vida muito difícil aos seus cidadãos que se vêem despojados de toda a sua riqueza.
Mas, segundo muitos economistas, a deflação (que se caracteriza pelo crescimento negativo dos preços médios) pode ser igualmente devastadora. Deflação é a baixa anormal e abrupta dos preços, porque a produção não é consumida por as pessoas adiarem opções de consumo, porque as exportações diminuem, porque a crise económica se instala e porque, mesmo com baixas taxas de juro, não há concessão de crédito ou dinheiro para comprar, etc.
O Japão tem vivido com essa realidade e com baixas taxas de juro; os EUA estão agora com taxas de juro inferiores a 1% e a Europa baixa igualmente as taxas, sobretudo para alavancar a circulação de moeda, a concessão de crédito e incrementar o consumo interno, neste momento conturbado da economia. E muitas indústrias anunciam preços de saldo para os bens produzidos. Ora, se é necessário escoar produções e não há mercado, os preços podem cair, podem originar paragens de produção e despedimento, podem levar ao adiamento dos consumos. Para já é só uma possibilidade…
Diríamos que não estamos preparados para esta nova realidade. É preciso pois evitá-la a todo o custo. Um Governo avisado baixaria os impostos sobre o consumo – no IVA ainda estamos 4 pontos acima da vizinha Espanha e no ISP é ainda maior a diferença. No nosso tempo só conhecemos uma situação, o aumento dos preços, em maior ou menor percentagem, mas sempre a subirem. Ora, existe agora a possibilidade de os preços caírem, de as casas valerem menos, os automóveis, os equipamentos e as máquinas também, de os produtos que todos os dias consumimos baixarem de valor e, bem assim, os salários, a taxa de emprego e a qualidade de vida de um modo geral.
Se estivermos perante uma situação conjuntural, de correcção, de ajustamento, de equilíbrio, menos mal (seria apenas desinflação), mas se a deflação for algo duradouro, não vai ser fácil viver com este novo cenário que, no limite, nos levará a ter saudades dos tempos em que os preços subiam. Por cá ninguém está preparado, acreditem. Como é possível virmos a ter saudades da inflação? Coisas da ciência económica!
Entretanto há sinais de preocupação num negócio ainda há dois anos florescente: começam a encerrar portas as “lojas dos chineses” que levaram, também elas quando abriram na última década, ao encerramento das “lojas dos trezentos”.