Com avaliações mais baixas e com a concorrência de destinos emergentes, o sector vê-se obrigado a construir com crescente qualidade e menor preço.

O investimento no imobiliário é tido como um dos mais seguros. Todos nós fomos educados nesse sentido. Fomos ensinados a valorizar a casa, a quinta, a horta, a vinha, o olival. Daí a alta taxa de habitação própria, daí o crescimento nos últimos anos da indústria de construção civil, daí a nova forma de ordenar o país, com milhares de novos loteamentos, seja para habitação permanente, seja para segunda habitação ou férias.
Daí também a fixação de preços sempre empurrada pela procura, que nas últimas três décadas foi sempre crescente. Apesar disso, tudo o que sobe… Não é que não fossem ouvidos avisos de quem conhecia bem a matéria (recordo-me de um membro do Governo do Eng. Guterres a alertar para os preços excessivos, que já então estariam em até 1/3 acima do real), mas o certo é que cada vez mais se construía e tudo estava vendido à partida.
Hoje assim não é. Hoje o interior já não envia em cada ano milhares de jovens casais para as grandes cidades (não os tem para mandar); hoje pensa-se no IMI e outros encargos futuros na hora de comprar (não fora a isenção prolongada recentemente e as coisas seriam ainda piores); hoje as famílias são mais pequenas e o grau de exigência em termos de qualidade aumentou. Tudo junto, provoca a baixa de valor. Se os estrangeiros também têm crise, é natural que desistam da compra de 2.ª habitação no Algarve, na Madeira ou no Alqueva, o mesmo acontecendo com os nossos emigrantes. Se passar a ser um investimento com crescimentos menos assentes na especulação, perderá o interesse de muitos. Se o sector começar a ter grande concorrência de destinos emergentes (Brasil, por exemplo, que está a lotear as suas imensas praias), poderá não vir a repetir por cá taxas de crescimento a dois dígitos.
Por tudo isso o mercado começa a normalizar e a primeira consequência foi a Banca passar a avaliar em baixa terrenos e casas. E essa forma de avaliar – mais real – está para durar. Recordo que a crise financeira começou por aí, por os bancos terem emprestado muito mais do que valiam os imóveis e face ao incumprimento dos clientes, executaram hipotecas com perdas enormes (sub-prime). A coberto da hipoteca da casa emprestava-se para o carro, mobília e outros bens móveis.
Assim, com avaliações mais baixas, haverá menos dinheiro para comprar e os preços vão naturalmente ajustar-se, ou seja cair! Não é cíclico, é inevitável, e em nossa opinião, de tendência duradoura. Vamos ter de construir com crescente qualidade e menor preço; essa é a verdade a prazo!