Breve reflexão do que será expectável para o ano de 2023, um ano que não será, na nossa região, muito diferente do que agora finda.

Ainda que haja maiores volatilidades económicas, riscos e ameaças, elas não serão tão evidentes no nosso Distrito. Por cá as mudanças são sempre mais ténues, tirando as que nos afetam mais particularmente, como as questões demográficas. Vejamos como poderá ser o novo ano:


Economia: Ainda com a inflação a comandar as nossas vidas e uma desaceleração económica no horizonte, no interior esta será mitigada pelo aumento da produção agrícola para autoconsumo. Os legumes, as frutas e os ovos, por exemplo, poderão voltar a ser produzidos por quem tenha condições para o fazer. Também o regresso à lenha para aquecimento poderá ser uma opção – ou uma inevitabilidade – pois a crise energética vai prolongar-se para 2024. Na banca, assistiremos ao encerramento de balcões ou à diminuição dos dias de abertura ao público. Também alguns serviços públicos poderão ver-se forçados a encerrar, não tanto por vontade política, mas por inexistência de funcionários em número suficiente para garantir a abertura, sobretudo nos horários alargados. Por outro lado, a execução de projetos com fundos europeus poderá conhecer um bom momento, com mais dinheiro a chegar à economia. Será um ano bom para a construção civil, sobretudo para os municípios que tenham estratégias locais de habitação com generoso financiamento no PRR. Haverá uma pressão enorme para se executarem as obras derivadas dos incêndios de 2022. Haverá dinheiro mas faltará capacidade de execução. Vamos ter os municípios – cada vez as entidades mais importantes em matéria económica na nossa região – com vontade de “fazer obra” mas sem empresas capacitadas em termos humanos para as realizar em tempo útil. Alguns concursos poderão mesmo ficar desertos. Não se avistam, contudo, grandes investimentos que possam ser criadores de emprego nem criadores de fluxos de procura comercial. Será, pois, um ano economicamente “morno”.


Emprego: Vivemos um tempo de quase pleno emprego e isso, sendo bom, não o será tanto para a nossa região que, incapaz de criar condições para manter os quadros e a massa crítica, a verá partir para outros territórios criadores de maiores oportunidades. Por ano, em Portugal haverá cerca de 85 mil pessoas a entrarem em idade de trabalharem e haverá cerca de 180 mil a reformarem-se, pelo que não haverá pessoas suficientes para substituírem os empregados atuais, ainda que alguns empregos se venham a tornar “ultrapassados”. Faltarão pessoas para trabalharem na agricultura, sobretudo pela sazonalidade da procura e as regras da “formalidade” do emprego, se não tiverem em conta a realidade dos nossos territórios poderão ditar o encerramento de parte da atividade agrícola não profissional, digamos. Poderão também faltar candidatos a trabalharem nas IPSS. Esta situação tende a intensificar-se, também pela saída de jovens qualificados para o litoral e para a Europa.


Energia: Mesmo que a guerra termine, os preços da energia não vão sofrer grandes alterações, primeiro porque o mercado ficou menor e assim se manterá por décadas (sem a Rússia), e depois porque as políticas pressionarão de modo continuado as emissões de CO2. Não conte com baixas de preços nesta matéria. Se o petróleo baixar, subirão os impostos…


Ensino: Com o número de vagas no ensino superior a aproximar-se do universo dos candidatos, as notas de entrada poderão baixar em algumas Universidades, captando os nossos alunos que poderão assim ter um maior leque de escolha, saindo muitos deles do território. Entrarão menos alunos no 1.º ciclo do ensino, no computo das escolas do distrito, e algumas escolas poderão estar em risco de perderem o ensino secundário (10.º ao 12.º ano), que, sendo obrigatório, levará alunos e porventura famílias a mudarem de município.


Demografia: Terminaremos o ano com menos 1 800 residentes no distrito; o equivalente à perda da população inteira de uma das nossas Vilas. A maior das nossas preocupações, portanto, não só em 2023, como em 2024, 2025…