De volta ao ajustamento das nossas contas públicas, louvo os muitos esforços de quem tem a maior responsabilidade para que não desistamos dos propósitos a prosseguir, mas, em boa verdade, para além do BCE e do FMI, na próxima década não haverá outros mercados para a dívida pública portuguesa, até que esta possa baixar para níveis que nos afastem do incumprimento… E o pior, é que a dívida continuará a subir, pela força dos juros entretanto vencidos, pelas necessidades de anulação dos défices (que ainda se situam, mesmo em austeridade, na ordem dos milhares de milhões de euros), pela recessão e pelo risco elevado de bancarrota. Os défices de hoje serão dívida pública de amanhã, ou impostos futuros, e apesar da austeridade, não se vislumbra crescimento económico significativo, que possa gerar excedentes orçamentais que possam servir para baixar o elevado endividamento. Em recessão, tais desígnios não são alcançáveis! Sinceramente, sem querer antecipar o atirar da “toalha ao chão”, em matéria de dívida pública, não sei se não seria melhor – a par com as muitas reformas necessárias – tentarmos uma reestruturação racional, meticulosa, acautelada, ordenada e significativa em valor; que pudesse trazer o esforço da dívida (pagamento dos juros e amortização) para metade dos valores actualmente inscritos no OE. Seria trágico do ponto de vista da credibilidade futura para novos empréstimos?! Sim, sem dúvida. Baixaria o valor do Euro?! Sim, sem dúvida. Mas como estamos, está a ser longa e penosamente trágico também; e um Euro desvalorizado sempre potenciaria o aumento das exportações e a nossa competitividade… Entretanto, as reformas estruturais iniciadas, as medidas limitadoras de direitos adquiridos, de flexibilização das leis laborais, de ajustamento da despesa pública primária, de saneamento financeiro de Institutos e Empresas Públicas, seriam no seu conjunto um bom ponto de partida para relançar a economia de um país mais competitivo e menos afogado em dívidas!… Porque parcialmente perdoadas é certo…
Para além do BCE e do FMI, na próxima década não haverá outros mercados para a dívida pública portuguesa, até que esta possa baixar para níveis que nos afastem do incumprimento.