Os políticos tomaram a opção de “democratizar” os prejuízos, pondo-nos a todos a pagar os maus resultados e dificuldades das empresas.

Nos últimos anos, este grande Banco que é a CGD (“Banco é Caixa”, como diz o spot publicitário) foi notícia por muitas vezes. Demasiadas vezes, diria eu. Não se tratou desta vez do anúncio de uma grande compra de um Banco na vizinha Espanha, nem da cedência de administradores ao maior banco privado português – o BCP -, (para normalizar e sossegar os mercados), nem da existência de administradores por competência política, ou das reformas chorudas de administradores em funções de curto prazo. Tão pouco se tratou da “nacionalização” dos fundos de pensões dos seus colaboradores, para equilíbrio das contas públicas, ou da vontade de privatizar a Caixa, manifestada por alguns.
Tratou-se por um lado, de colocar esta instituição, com ampla cobertura nacional (Banco que é nosso, de todos os contribuintes), a tapar todos os grandes problemas com algumas instituições financeiras e outras, no nosso país, como se fosse ilimitada a sua actuação no mercado a resolver problemas de outros, não obstante o grande prestígio acumulado.
Primeiro o BPN, seguiu-se o BPP, depois as minas de Aljustrel e a Qimonda de Vila do Conde (multinacional Alemã). Todos necessitados de capital, de liquidez, de apoios públicos e marcados pelo espectro da falência. E, para trazer segurança e confiança aos mercados, os políticos cederam e tomaram a opção de “democratizar” os prejuízos, pondo-nos a todos a pagar os maus resultados e dificuldades das empresas citadas. A isto poderá chamar-se “comunismo cirúrgico”, porquanto muitas outras PME´s são deixadas à sua má sorte e falência. Quando um dia, com o necessário distanciamento, se estudar este período económico da nossa história, veremos o que se vai dizer desta atípica intervenção discricionária do Estado na economia.
Foi, assim, necessário proceder a novos aumentos de capital do banco público, que pensamos, teve pela primeira vez na sua história, também ele, problemas de financiamento no exterior, acabando por se financiar com um custo acrescido.
Tenho para mim que a Administração da Caixa não gosta das medidas que o Governo lhe vem obrigando a tomar, sendo que não são objectivas nem racionais e contêm um excessivo risco comercial. Pelo menos é o que eu penso. O Governo lembrou, pelo contrário, que ainda bem que temos este recurso à CGD para pôr ordem e confiança nos mercados, que o mesmo é dizer: imaginem que não era um banco público e que não podíamos dividir o prejuízo de alguns privados por todos nós… iniciando-se o colapso do sistema, ou então a limpeza do sistema, conforme a posição crítica que sobre o assunto se tenha.
O pior mesmo, em toda esta situação, é se a CGD é afectada pela grandeza dos “fogos” a que foi obrigada a acudir, “chamuscando-se” irremediavelmente, adiando a sua capacidade de decisão por critérios de gestão ao sabor de políticas algo casuísticas, deixando de se internacionalizar, de ganhar novos mercados e de ir ao encontro das oportunidades que a Diáspora Lusa proporciona. Um mau negócio ou acto de gestão ruinosa numa grande instituição pode funcionar em economia como um câncer que vai somando estragos e ganhando espaço para maiores problemas.
Era suposto que a Caixa tivesse um papel de quase regulador do mercado, estabelecendo valores razoáveis e de referência para comissões e spread’s da Banca em geral; ou mesmo um papel essencialmente fomentador do investimento, quando estrategicamente necessário, e, sobretudo, uma garantia das poupanças e das reformas de milhares de portugueses que nada têm a ver com os produtos tóxicos financeiros e não querem sofrer por riscos que não quiseram correr (se não, teriam procurado outros Bancos para alavancar insustentavelmente as suas poupanças). Não estraguem pois a Caixa Geral de Depósitos.