O bom da economia, é que cada um pode opinar e até acertar nas previsões. Cada um olha para a mesma realidade e vê pelo menos duas situações distintas. Por isso há mercado. Há sempre quem compre e quem venda.
Os economistas, com os seus complexos modelos não previram muitos dos acontecimentos recentes (crise do subprime ou as viagens low cost, por exemplo) mas em alguns acertaram.
Alguns destes acontecimentos são meras observações da realidade com que nos deparamos.
Olhando para um futuro próximo de 10 anos, há realidades que vão, parece-me, acontecer:
1. Vamos ser menos portugueses, entre 300 a 400 mil a menos. Isso baixará o PIB, mas também a despesa social (hospitais e prestações sociais com pensões). Baixando o PIB, poderá a dívida voltar a subir, não só em valores absolutos – como hoje acontece – mas em valores relativos também;
2. A natalidade continuará em queda;
3. Mais escolas e serviços públicos vão encerrar por falta de alunos e de utentes. Mesmo as escolas superiores do litoral vão sentir a chegada de menos alunos;
4. No interior do país viverão menos 10 a 20% das pessoas com que hoje conta. As pessoas viajarão menos para o interior. Os custos continuarão proibitivos e as viagens low cost, levando as pessoas para o estrangeiro, parece estarem para durar;
5. A banca tradicional vai continuar a encerrar balcões. Para gerir ordenados que poderão ser mais baixos (atenta a tendência) sem aplicações financeiras ou investimentos complexos não vai ser necessário mais do que um telemóvel, que todos têm. Não se ficarão por aqui os problemas dos bancos. O crédito mal parado parece não baixar assim tanto e as ajudas pelos contribuintes têm limites;
6. O preço das casas nas grandes cidades vai continuar em alta, pelo menos nos póximos 2 a 3 anos, mais pela procura externa do que pela interna, que o número de casamentos reduzirá significativamente;
7. O turismo está longe de ter atingido o topo. Prosseguirá a abertura de hotéis e unidades de turismo. Somos um país fabuloso e os indianos e os chineses ainda mal começaram a chegar;
8. A população a trabalhar no setor primário atingirá valores mínimos (até pelo limite etário) e que merecerão políticas especiais, pois o abandono de grandes áreas territoriais tem elevados riscos;
9. Prosseguirá a valorização dos bons produtos portugueses. Porque são realmente bons e porque há muito mercado para os adquirir;
10. Haverá significativa redução de automóveis em circulação, não só pela redução de cerca de 3% dos portugueses nos próximos 10 anos, pelo preço fiscal dos combustíveis mas também pela afirmação de novos padrões de vida. As pessoas estarão concentradas nas cidades e aí os transportes públicos tenderão a dar melhores respostas;
11. O investimento público continuará limitado, até porque muita da despesa corrente só estabilizará (em alta) dentro de 2 a 3 anos.
12. Nos municípios poderá haver margem para aumentar o investimento público e mesmo a empregabilidade, pois é um setor excedentário e com moderado endividamento;
13. Os níveis de poupança manter-se-ão baixos e isso fará perigar o investimento privado, ficando mais dependentes do crédito externo (hoje o endividamento total nacional ultrapassa os – insustentáveis – 700 mil milhões de euros);
14. Algumas grandes superfícies poderão limitar a sua expansão. Há novos hábitos de consumo a afirmar-se. Vamos consumir menos. Algumas lojas e cafés vão fechar (as cápsulas para café vieram para ficar);
15. Se houver mesmo bolha imobiliária, e antes de rebentar, vamos ver muitas empresas a venderem os seus espaços para aproveitarem a alta de preços e a arrendarem imóveis para continuarem a atividade até os preços normalizarem;
16. As chamadas telefónicas “clássicas” vão quase desaparecer, pois a comunicação digital vai afirmar-se;
17. Gastaremos muito mais com a saúde. Os níveis de exigência de cada um e de satisfação estão a aumentar;
18. Não haverá lugar para assinaturas de jornais e revistas (tirando honrosas exceções). A informação vai fluir, a boa e a má. Cabe a cada um de nós escrutinar e avaliar;
19. O desemprego vai continuar a tendência de baixa. As máquinas ainda não estão a substituir os trabalhadores e há muitos trabalhadores que vão sair da vida ativa e precisam ser substituídos por outros trabalhadores;
20. A carga fiscal vai manter-se elevada. Muito elevada. Serão muito menos os contribuintes a terem de suportar a mesma despesa pública. A despesa pública apenas cairá levemente com a diminuição populacional, mas estará sempre dependente do peso dos juros da dívida;
21. A Europa será mais Europa depois da saída do Reino Unido e as políticas públicas europeias poderão ser mais amigas e daí advirão oportunidades;
22. As exportações vão continuar a crescer (o Mundo cresce…);
23. O mundo vai crescer entre 3 e 4% nos próximos 3 anos ( as grandes Índia e China crescerão muito acima da média, e também os países menos desenvolvidos).
Resumindo: Os primeiros três dos próximos 10 vão ser, também por cá, de crescimento. Os outros, verdadeiramente, ninguém sabe… E dependerá sempre das taxas de juro internacionais. Mas como sempre, serão lentas as mudanças de direção. Nem sempre a subir, nem sempre a cair. Mas há movimentos que não mudarão nos póximos 10 anos. Quais ? Os demográficos, e os da subida dos impostos, sobretudo (estudo estes há tantos anos, 30? 35?, que já me atrevo a dizer que não são meras previsões; são ambos realidade!!).