Sabemos que a transição para a fase endémica – em que passamos a conviver com este risco de “gripe” para sempre, mas com menor gravidade nos seus efeitos – será lenta e poderá durar bem mais de um ano.

Ao momento em que escrevemos esta reflexão, parece estar dominada a 3.º vaga da pandemia, que como sabemos corresponde à propagação descontrolada de uma doença, atenta a sua elevada contagiosidade.


Estaremos, pois, a um passo de passarmos para a Endemia, ou ao controlo da doença. Esta situação refere-se a qualquer doença localizada num espaço limitado denominado faixa endémica. Tem apenas causa e circulação local não se estende para fora da região (José E. Carvalho, “Economia COVID-19, 2020”). E estará controlada se a reprodução estiver em níveis “R0” bem abaixo de 1, como atualmente acontece com a Covid-19. Já agora, a doença foi assim designada pela Organização Mundial de Saúde por ser um nome neutro que não se confundisse com um país, cidade, rio ou outro elemento geográfico para evitar estigmatizações (embora exista uma aldeia no norte de Portugal denominada Covide…).


Do pouco que já se sabe sobre esta doença, e na falta de um plano de contingência nacional que configure uma estratégia emergente para lidar com esta ameaça, permitimo-nos avançar alguns elementos:

  1. Sabemos que a transição para a fase endémica – em que passamos a conviver com este risco de “gripe” para sempre, mas com menor gravidade nos seus efeitos – será lenta e poderá durar bem mais de um ano.
  2. Sendo certo de que entre vacinados e infetados com este vírus já teremos quase 20% da população imunizada e que será mais difícil ao vírus avançar exponencialmente, como no passado recente, é igualmente certo que o Serviço Nacional de Saúde continuará a drenar recursos importantes para esta doença, estando outras no limite temporal dos tratamentos. Por isso, em 2021 e também em 2022 e 2023, continuaremos a ter elevada mortalidade seja por Covid, seja pelas externalidades negativas desta doença sobre outras enfermidades.
  3. A recuperação económica não vai ser, pois, em “V” e porventura em vários “WW” com algumas estagnações. Foram demasiados meses de ausência de economia nas nossas vidas e os efeitos colaterais negativos (desemprego, incumprimentos contratuais, etc.) estarão a chegar a todos os municípios portugueses.
  4. Com o fim das moratórias bancárias (a ocorrer mais lá para o verão), o quadro poderá complicar-se mais, ou para os cidadãos, ou para a banca; e neste caso haverá o prejuízo de chegar aos contribuintes, como sempre sucedeu perante o tal «risco sistémico».
  5. As pessoas que não perderam rendimento nem postos de trabalho canalizaram recursos para poupanças que agora poderão alavancar os fundos do «Plano de Recuperação e resiliência» e isso poderá criar um cenário positivo de investimentos, mas nem todos estarão igualmente preparados para executar estes fundos e os demais Fundos Europeus que se agigantam, pois vigora ainda o PT2020 e vai ter início um novo Quadro de Apoio, e aquele ainda tem 47% das verbas por executar…
  6. As famosas máscaras vieram para ficar. 2021 será ano de máscaras.
  7. O Turismo, já o dissemos em crónica anterior, será a nossa indústria com potencialidades de disparar, pois estão cá as paisagens, o sol, a gastronomia e os hotéis, mas, apesar de haver essa vontade coletiva de viajar, o medo estará presente na hora de decidir e não será em 2021 que tudo vai abrir…Alguns terão justificados receios, pois começámos o ano nas bocas do mundo como sendo os piores, e muitas marcações turísticas ocorrem no princípio do ano…
    Com a doença a tornar-se endémica, teremos uma nova gripe entre nós e teremos de aprender a lidar com isso, sem deixarmos de fazer o nosso dia a dia a não ser que a doença o não permita. Será uma gripe. Os medicamentos vão melhorar e adaptar-se-lhe e as nossas vidas também. O vírus não vai morrer e nós, enquanto hospedeiros involuntários teremos de aprender a lidar com a situação. Tal como este ano não apanhámos as velhas “gripes”, teremos de saber fintar esta nova gripe, não obstante a sua especial contagiosidade.
    Enquanto o plano estratégico de desconfinamento não surge, ocorre-me que seria melhor ir abrindo do que abrir tudo de uma vez. Poderíamos ir almoçar com limitações e ir ao cabeleireiro com essas mesmas limitações. Tudo deveria ir abrindo com sérias e cívicas limitações. A não ser assim, depois de tanto tempo fechados, quando tudo abrir, lá vamos todos fazer fila, tal como o vírus gosta…