A poesia e os livros são telas fundamentais para a sociedade e os alunos devem estar próximos das mesmas, de modo a aprimorar e a solidificar a tão necessária, apregoada e oportuna “ligação” à literacia.

De 8 a 11 de Novembro realizou-se, em Torres Vedras, o IX Congresso Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras. O tema, “Cidades educadoras, cidades das crianças, cidades para todos”, tal como se desejava, foi dinâmico, aberto e motivador.


Segundo a organização, é importante reflectir “sobre o papel da cidade educadora enquanto território que pretende oferecer não só às crianças, mas a todos os grupos da nossa sociedade, um ambiente ideal para que possam viver de forma plena a sua cidadania e encontrar no espaço urbano um espaço de realização individual e coletivo”.


Enquanto técnico superior do Município da Guarda e dinamizador de vários projectos socioeducativos, apresentei, no dia 10 de Novembro, o Clube de Oralidade “Pensar Alto”, assim como as Oficinas de Poesia e Desenho e as Oficinas de Escrita.


Estas Oficinas, tal como outras que promovo em diferentes instituições do Concelho da Guarda, são autênticos projectos de continuidade. As Oficinas que apresentei no Congresso Nacional em Torres Vedras foram alvo de candidatura, tendo sido posteriormente aprovadas pelo Conselho Científico da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras.


As Oficinas abraçam palavras tão importantes como sejam: debate, oralidade, inclusão, imaginação, afectos, firmeza, dedicação, acreditar, criatividade, perseverança e compromisso.


As Oficinas são fruto de protocolos de colaboração entre o Município da Guarda e os dois Agrupamentos de Escolas, bem como entre o Município da Guarda e a Casa de Saúde Bento Menni.


Quanto ao Clube de Oralidade “Pensar Alto”, trabalho, em sala de aula e na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, com alunos de várias turmas do 10ª e 11ª Ano. As salas de aula transformam-se em espaços de debate e de discussão sobre diferentes temas da actualidade e problemas que inquietam os jovens. Tal como se pretende, as capacidades discursivas e argumentativas, no domínio da oralidade, acabam por ser promovidas.


No meu entender, apenas os projectos de continuidade conseguem edificar valorosos e distintos contributos para os territórios. É seguramente importante que os jovens sejam identificados e perfilhados como protagonistas. É relevante construir uma Escola atraente.


É necessário escutar, não apenas ouvir, os nossos jovens, pois são eles os actores principais dos efeitos atracção e rejeição, bem como das transformações que acontecem na morfologia do espaço. Necessitamos de massa crítica exigente e perseverante para acreditar. O pensamento individual tem obrigatoriamente de ser impulsionado. Os jovens jamais podem ser apelidados de “actores decorativos”. Os alunos demonstram ter opiniões incisivas sobre os temas propostos.


A inclusão, a reflexão, o pensamento crítico, a valorização da diversidade cultural, o aperfeiçoamento das capacidades cognitivas e sociais, a ligação à literacia, a amputação dos preconceitos e da discriminação constituem condições que devem ser permanentemente avigoradas.


No que diz respeito à Oficina de Escrita e às Oficinas de Poesia e Desenho, dinamizadas na Escola Carolina Beatriz Ângelo e na antiga Escola de São Miguel, ambas do Agrupamento de Escolas da Sé, apresentámos, em 2021, o livro “As Aventuras dos 8 Amigos” e, em 2022 e 2023, as exposições “Dar Cor às Palavras” e “Desenhar com Poesia”.


O livro, “As Aventuras dos 8 Amigos”, reflecte a vontade de ter um mundo mais justo, mais democrático e mais solidário. O livro inclui seis capítulos e vários desenhos alusivos a cada capítulo. Os alunos da Educação Especial, que frequentam a Escola Carolina Beatriz Ângelo, criaram um verdadeiro tesouro e uma marca na cidade. O livro permitiu aos autores descobrir a escrita e o desenho como uma forma de ver o mundo; de se ver no mundo; de se perceber; de perceber o outro; de perceber a sua relação com o outro; de se respeitar; e de respeitar o outro.


Apesar de o livro incluir aventuras diferentes, o segundo capítulo está mais completo do que o primeiro, o terceiro mais completo do que o segundo, e assim sucessivamente. Condição que demonstra o progresso dos autores.


As exposições, cujos autores pertencem à Educação Especial, tiveram como pano de fundo alguns poemas, poemas esses que foram lidos, debatidos e interpretados em sala de aula. A finalidade foi desenvolver as capacidades criativas individuais e colectivas dos participantes através da leitura e interpretação dos poemas. Pelo facto de a poesia ir muito para além de um poema, as telas coloridas também são poesia.


O livro e as exposições acabaram por ser um grito de confiança, de firmeza, de dedicação, de auto-estima, de motivação e de sorrisos francos. Divertimo-nos! Somos cúmplices!


Em relação aos autores, os verdadeiros protagonistas destes projectos, demostraram ter inúmeras capacidades e elevados índices de criatividade. Aquilo que verdadeiramente é importante neste tipo de projectos é o processo, as apresentações públicas finais apenas servem para dar ainda mais dignidade aos trabalhos e aos autores.


A poesia e os livros são telas fundamentais para a sociedade e os alunos devem estar próximos das mesmas, de modo a aprimorar e a solidificar a tão necessária, apregoada e oportuna “ligação” à literacia. Na minha perspectiva, estas iniciativas contribuem, significativamente, para esbater os preconceitos e a discriminação em relação aos alunos mais vulneráveis.


No que concerne à Oficina de Escrita na Casa de Saúde Bento Menni, participam 10 utentes, cidadãos com problemas de saúde mental. Realizam-se exercícios que têm como objectivo principal motivar os participantes a escrever textos individuais ou colectivos. Para tal usou-se, como estímulo inicial, a leitura de poemas de Eugénio de Andrade, Ary dos Santos, António Gedeão, Manuel António Pina, Florbela Espanca ou Mário-Henrique Leiria, entre outros. Há também espaço para a análise crítica do trabalho de cada um.


Os melhores textos foram seleccionados pelos participantes e incluídos nos livros colectivos publicados em 2018 e 2019, “Agora Volto do Labirinto” e “Palavras Escritas na Neblina”. O processo de selecção é sempre muito participado e completado com uma visita à tipografia que imprime a obra. O balanço é muito positivo, dada a assiduidade, dedicação e progresso verificado por parte de todos os participantes.
Em 2018, tratámos da coordenação e produção editorial de dois livros da autoria de duas das participantes na Oficina, Maria de Lurdes Ribeiro editou “Um Silêncio Cheio de Rosas” e Joana Sarmento editou o livro “Transforma-te num Pássaro e Voa”.


Em 2024, vamos pulicar “Basta Um Pássaro a Voar”, mais um livro colectivo. De referir que a capa e a contra-capa deste livro, tal como aconteceu no livro “Palavras Escritas na Neblina”, são da autoria da minha filha, Beatriz Gonçalves.


As Oficinas constituem verdadeiros espaços de revelação, de libertação, de prazer e de imaginação. Viajamos, corremos, saltamos, rimos, aplaudimos, caímos, levantamo-nos e trabalhamos. Viva a literacia! Viva a Inclusão!