Todas as religiões se inquietam com a cura e a saúde das pessoas. As preces que visam a cura acabam por ser realizadas por todas as religiões. Essas orações podem, através do encadeamento psíquico, alcançar muitas curas, todavia essas curas jamais podem ser apelidadas de milagres.
O poder da súplica vai ao encontro da própria “disposição” psíquica do homem. A nossa mente é imensamente complexa, amamentando uma espécie de poder para provocar enfermidades ou para curá-las.
Neste sentido, podemos certamente afirmar que a oração pode ser contemplada como um instrumento eficaz de ajuda psíquica, podendo, por essa razão, colaborar na cura. A psicologia e a ciência legitimam que os cidadãos que oram acabam por ter uma vida psíquica mais contrabalançada, esquivando-se de determinados tipos de doença, bem como abrigando telas superiores de força e motivação para encarar e suportar outras enfermidades.
Será que o poder da mente não cura a maioria das doenças? Será que não existem inúmeras doenças de origem psíquica? Será que não é simples detectar e analisar a forma como a mente tem poder sobre o organismo?
O milagre tem “índole” excepcional, ou seja, longe do vulgar. A sua realização é outorgada à omnipotência divina, sendo apreciado como um procedimento de intercessão divina na corrente normal das ocorrências. A Igreja Católica deve ter bastante cuidado em asseverar a existência de milagres, uma vez que a mesma sabe que cura não é sinónimo de milagre.
A Igreja Católica, para canonizar um santo, pede a confirmação de dois milagres. Na realidade, todos os anos a Igreja Católica canoniza santos. Será que esta condição não demonstra que ocorrem milagres, no âmago da Igreja Católica, de modo excessivamente amiudado?
Será que os milagres acontecem diariamente? Será que a ciência já alguma vez se pronunciou afirmando que um determinado acontecimento é milagre? Será que para se chegar a uma conclusão sólida, rigorosa e verdadeira não é necessário aconchegar a avaliação de diversos especialistas “independentes”?
Será que não é um verdadeiro milagre existirem pessoas que efectivamente acreditam em milagres? Será que não é fundamental mencionar e explicar com exactidão os milagres narrados no seio da Igreja Católica? Será que o cristão pode viver permanentemente à procura de milagres?
Será que o mesmo não assumiu transportar a Cruz? Será que muitas religiões não são sustentadas pela palavra milagre? Qual a razão de existirem tantos milagres fora do Cristianismo? Será que estavam todas as religiões correctas? Será que todos os trajectos levam a Deus? Será que é possível legitimar um milagre?
Se houvesse somente uma religião no mundo e na qual existissem milagres ninguém teria incertezas de que a mesma era a correcta. A verdade é que os cidadãos esperam por milagres transcendentais. Será que é a religião que nos salva ou é a acção em prejuízo do discurso? Será que precisamos de ser salvos?
Ao atribuirmos a um determinado acontecimento o carimbo do divino, as pessoas não sabem efectivamente se foi um acto divino, as mesmas simplesmente empregam a sua fé para atribuir essa significação. Uma ocorrência extraordinária é algo difícil de acontecer e que, por esse motivo, foge do quotidiano, contudo, mesmo assim, não é irrealizável.
Será que não é insincero e contraproducente tentar afirmar que determinado acontecimento teve origem divina, somente porque achamos que sim? Será que não são as evidências que comprovam se algo é sobrenatural ou não?
Milagres, por definição, não existem. As histórias sobre os milagres provocam enorme interesse nas populações. Os géneros literários e os cânones religiosos que fazem referência à existência de milagres devem presentear-nos com a sua própria tradução daquilo que compõe um milagre.
Para poder dissecar os milagres descritos na Bíblia, torna-se indispensável chegar a uma definição do vocábulo milagre. No meu ponto de vista, os milagres apenas desfilam nos livros com o propósito de despertar a fé e, em certa medida, adestrar o homem.