Sejamos racionais. Inflação só se combate de duas formas, ou três, vá:
- reduzir dinheiro em circulação (pela contenção salarial e/ou pelo aumento dos juros);
- diminuir consumos por iniciativa dos próprios consumidores ou, ainda,
- aumentar consideravelmente a oferta de bens transacionáveis.
Estes serão os fatores mais impactantes na formação dos preços. Há mais, é certo, como o preço da energia e dos transportes, que todos sabemos serem dolorosamente importantes…O preço da energia marcará, seguramente, a inflação do próximo ano. O fator exógeno na formação dos preços mais importante em 2023 será, contudo, marcado pela inconstância dos preços e dos fornecimentos da energia. A energia marcará o ritmo do crescimento económico ou da recessão anunciada.
E, se numa primeira fase os consumidores começaram a consumir como se não houvesse amanhã (vejam-se os esgotados concertos de verão, deste ano e do proximo, os esgotados hotéis e as esgotadas viagens ou os esgotados automóveis, computadores…); numa segunda fase, já com parte das disponibilidades a “sumirem-se” para encargos com juros da habitação vamos ter o consumo a travar. Sim, porque não é racional nem compreensível que se pague um kg de pera-rocha a 3€, quando ao produtor não chegará um terço desse valor. Daí que vamos todos consumir menos até que os preços deixem de ser especulativos.
Ainda não se notará por esta primeira quinzena de setembro, mas na próxima e seguintes, tenho a certeza de que os consumos vão ser refreados. Há muito desperdício nos consumos e consumos que parecem ser exagerados. Será assim, não obstante o governo faça despesa do OE destinada a apoiar os consumidores. Pôr dinheiro nas mãos de consumidores para “mitigar” a inflação, como se faz por toda a Europa e Mundo Ocidental, é, pelo contrário, dar-lhe gás…Mais parece que a preocupação será já mais com potencial abrandamento da economia do que com o controlo da inflação…
Ainda assim, creio que o consumo vai refrear, mesmo antes de faltar o dinheiro em circulação.
Quanto ao aumento da produção e da oferta de bens para equilibrar os preços, aí já será mais visível o efeito da pandemia, que ainda mata dezenas, e o efeito da guerra que, entre outros, torna o gás e o petróleo voláteis e imprevisíveis para além de ter diminuído em 5 a 6% os mercados globais (com as sanções, o mercado russo deixou de contar para as empresas ocidentais).
Está, pois, nas mãos dos consumidores “achatar a curva” dos preços, pelo travão no consumo, já que no domínio energético reinará a incerteza.
Eu acho que é isso que vai acontecer. Mal as prestações da amortização da casa subam, as pessoas vão travar consumos a “pés-juntos”. Claro que em consequência o PIB vai ressentir-se…(são afinal frágeis os quadros de crescimento económico assente apenas em consumo).
Mas quem não estudou os famosos ciclos económicos?!