Com a verificação da ameaça pandémica acima de todas as piores previsões, não vamos ter um ano fácil. Se 2020 foi muito difícil, 2021 sê-lo-á muito mais. Estamos, nesta primeira quinzena do ano, nos lugares cimeiros, relativamente, em número de casos e em mortes. Eu sou um leigo em matéria de saúde pública – aviso já os leitores – mas já temos todos praticamente um ano vivido em crise pandémica e isso permite olhar para os dados e para as situações e delas retirar alguma experiência e conhecimento.
Vejamos como vai ser 2021:
- Janeiro já é comparável, a primeira quinzena está passada e estamos no lugar cimeiro que mais ninguém quer (em termos de casos Covid-19). Ou seja, começamos de um patamar muito mau. Estamos em “situação limite”. Se há um ano eram as autoridades quem negava que o “vírus chinês” chegaria à Europa, agora são os cidadãos comuns que estão a acusar a pressão do confinamento, das limitações, das medidas titubeantes e dos maus resultados a que chegámos, independentemente das causas que a eles conduziram;
- Primavera. Ao contrário de 2020, entraremos na estação com maus resultados, hospitais próximos da rutura e uma curva imensa por achatar, e isso fará todo o ano diferente. A “curvinha” de março/abril passados, foi por todos achatada em tempo record. Não cremos que tenhamos a mesma sorte este ano, sobretudo porque o pico só agora vai ser atingido e é muito mais elevada a “vaga”.
- O Verão trará melhores notícias pandémicas mas péssimas notícias em matéria económica e social. Os efeitos dos sucessivos confinamentos vão provocar danos No Outono estaremos como em 2020, mas agora muito mais receosos e no Inverno estaremos assustados e ansiosos, uma vez mais. 2021 será pior, no conjunto, do que foi 2020.
- O Turismo e as viagens estarão “congeladas” por todo o ano de 2021. O verão será cá dentro, novamente. A TAP não vai descolar e vai exigir grande parcela de recursos públicos para se manter operacional (mas sem voar ou a fazê-lo muito abaixo dos padrões normais). As decisões para as viagens do Verão tomam-se no primeiro trimestre do ano e as notícias que daqui daremos ao mundo são as piores. Vão fechar-nos portas outra vez, que há muita “política” nas decisões dos Estados, como vimos no ano passado quando éramos o “milagre” europeu e mesmo assim não queriam deixar vir os seus cidadãos passar férias cá;
- Economia. Depois das mortes e do sofrimento de milhares, a economia será a grande derrotada da pandemia. Vamos ter muitas pequenas empresas que já não vão abrir quando acharmos que “ficou tudo bem”. Pensar que vai ficar tudo bem, é agora menos provável. Desta vez não vimos um único arco-íris pendurado nas janelas. O clima de confiança é muito importante como sabemos para os mercados, e desta vez a esperança parece não estar muito presente;
- Finanças Públicas. Com a economia a travar a fundo, as receitas fiscais vão cair e subirão as prestações sociais. Um verdadeiro problema que obrigará a maior endividamento do Estado;
- Teletrabalho. Veio mesmo para ficar. As cidades e as vilas deverão preocupar-se em disponibilizar espaços inspiradores de co-work, sobretudo aqueles municípios que lutam há anos para deixarem de ser “dormitórios” de outras cidades, mas também para as cidades do interior. Têm aqui uma oportunidade de ganharem pessoas e funções económicas, sobretudo ao nível dos serviços, é certo;
- Vida Social. Não estará de volta em 2021. Os casamentos adiados terão mesmo de realizar-se, com limitações adequadas. E bem assim todas as demais festas de cariz religioso e social. Adiar não vai ser solução, ou o ano ainda será pior. Aconselha-se, contudo, muita prudência nos eventos sociais. Já vimos como tudo começa e se desencadeia…;
- Obras. Haverá muitas oportunidades nesta matéria, sejam obras públicas sejam privadas. 2021 é ano de eleições autárquicas e há muito dinheiro dos Fundos Europeus do PT2020 ainda por executar. Será um grande ano neste setor. Mas também em obras privadas. Se as pessoas ficam em casa vão necessitar de mais espaço e de mais conforto e as pequenas remodelações serão uma constante em 2021;
- Demografia. Vai ser um ano de saldo natural negativo, como foi 2020, e provavelmente teremos também imigrantes a regressarem aos seus países ou a procurarem outros locais que cresçam mais em termos económicos. Já era um problema. Agora será ainda mais evidente;
- Mortes Covid. Antes do trimestre acabar teremos dobrado o número total de mortos de 2020, e chegaremos ao Verão com mais de 20 mil mortos (desde que a pandemia começou e até 15.1.2021, temos 8 543 mortes), vamos ter dias com mais de 200 mortes Covid e depois a descida vai ser lenta, muito lenta e com elevado sofrimento humano;
- Vacinas. São a nossa salvação, mas vão demorar muitos meses a chegar a todos. O ano terminará com menos vacinados do que os desejáveis. Nesta matéria, só alargando a rede de vacinação às farmácias e colocando os militares a vacinar, e, se o problema for também financeiro, devemos colocar as pessoas e as empresas a custear, querendo, as suas próprias vacinas. A ameaça de não vacinarmos será muito maior do que o custo individual das vacinas;
- Esperança. É a última a morrer!… Cada um de nós está convocado para esta luta.