Dois poemas para assinalar o Dia Mundial da Poesia.

Sorriso Contagiante

Nunca abandones esse teu sorriso, desfila através dele e assinala cada instante

É sublime e contagiante, para o mais próximo e para o mais distante

Hospeda-o como uma fragrância cara, rara e compassada

Emprega-o como uma nascente límpida, estimada e apreciada.

É certamente com lábios e sorrisos tão perfeitos que o Universo se desofusca

Não partas para outros lugares, nem sejas brusca

Jamais desejo que vás embora, quero que o amor prevaleça

Caso contrário, rapidamente chegará o isolamento e não pretendo que escureça.

Quando medito na tua alma e silhueta, prontamente observo de uma forma pura

Cerejas doces e firmes trajadas a vermelho-púrpura

Amêndoas cremes e mélicas envolvidas em panos de linho com todos os predicados

Vinhos encorpados, equilibrados e de paladares frutados.

Raios solares duradouros e cálidos

Lençóis afectuosos, aveludados e ávidos

Palpitações argutas, rebeldes e ternurentas pintadas a tons de união e emoção

Lábios meigos e açucarados que aformoseiam o teu poder de sedução.

Estamos felizes, no nosso espaço a paz vence a guerra e honramos as palavras amar e estimar

A alegria bateu-nos à porta e nós convidámo-la a entrar

No nosso canto as telas pequenas são somente as da aparência e as da afiguração

Os traços fulcrais que nos fizeram amadurecer e aproximar talvez sejam imperceptíveis para a população.

Não te aqueças com o pijama esta noite

Bebemos vinho de rótulo e hoje, mais do que nunca, és a minha Afrodite

Abandonamos o silêncio, lês-me uma história de amor com os dedos e vamos ficar em casa a dançar

Soltamos o grito ou o gemido que chegar, apenas te quero abraçar.

Através do tacto interpretas o mundo

Escreves em relevo um poema profundo

Abrandas como ninguém as diferenças, és uma sereia que habita comigo no oceano da coesão e da paixão

A tua derme riçada e cálida escorrega pela minha com intenção

Alexandre Manuel Nunes Gonçalves

Rua

Trajando as ruas da cidade e da ambiguidade

Deambulavam jovens entoando cânticos de Zeca com bastante cumplicidade

Entre penumbras de edifícios emudecidos

Fantasias de homens afadigados, pessimistas e escarnecidos.

A população desnudada, desamparada e sem virtuosismo

Entre golpes de impaciência, agastamento e nervosismo

Segura-se à terra, à conjuntura, ao espaço e ao tempo

Sabendo que os seus sonhos são os seus fracassos e uma espécie de contratempo.

No desassossego da privação

Luzes ofuscadas pelas trevas da traição

Tentam extorquir os momentos, os sorrisos e os argumentos

Deixando assombradas as forças e os profícuos pensamentos.

A cidade está inundada de palavras sem honra e de contextos de injúria

As ruas são coloridas em tons de sangue e fúria

A cidade tem sentimentos desertos e afeições de reduzida beleza

Embebidos em cinismo, morte e fraqueza.

Os barões da vida fácil que são autênticos ladrões

Vão de discurso em discurso entoando sanções

Desprezando a palavra justa e a obra

Transaccionam a banha da cobra.

Espero ansiosamente pelos raios solares

Quero caminhar pela cidade a ouvir os contos e os cânticos populares

Desejo dar passos com tino, acalmar a raiva e mergulhar na claridade

Sabendo que na superfície do medo desfilam os derrotados e as teias da vulnerabilidade.