A fotografia, compreendida como representação do autêntico, contém um âmago ancestral análogo à pintura. Através da fotografia conseguimos abrir uma janela para o mundo, na qual os rostos e acontecimentos internos e externos se tornam familiares. A palavra escrita é enigmática e a imagem devia ser o espelho real da humanidade. A fotografia jornalística descobre, exibe, descreve, confessa, manipula e opina.
A fotografia digital e o desenvolvimento das telecomunicações e da informática proporcionaram ao fotojornalismo excelentes potencialidades quanto à velocidade, à maneabilidade, à ductilidade e ao aproveitamento da fotografia em dissemelhantes meios e acontecimentos. Todavia, com o aperfeiçoamento de certos programas que permitem modificar imagens, os fotojornalistas e os editores passaram a desfrutar de poderosas ferramentas de subjectividade e de manipulação social. Também as tecnologias de informação e comunicação habilitam e espicaçam os fotógrafos a efectuar uma permuta de técnicas, de práticas, de experiências, de conceitos de criação e de tratamento de imagens. Acabou por emergir uma noção diferente e mais “coesa” de interpretar o produto fotográfico, na qual a imagem jornalística há muito que não é acarinhada de modo inócuo pelos jornalistas e editores dos jornais impressos.
Para alguns fotojornalistas fotografar é imortalizar uma determinada circunstância que poderá ser admirada pelas gerações futuras. Porém, será ingénuo da nossa parte outorgar ao fotojornalismo a confirmação plena da verdade, bem como a representação rigorosa da realidade. A fotografia acaba por nos ensinar um regulamento visual que é metamorfoseado e amplificado tendo em conta as nossas imagens e concepções culturais. Neste contexto, arquitecta-se uma cultura visual fundamentada na cultura, na observação, na experiência e na estética. O apontamento fotográfico vai apresentando a existência de certas fragrâncias económicas, ideológicas, sociais, culturais e políticas.
O fotojornalismo, numa perspectiva “desafogada”, caracteriza-se não tanto pelo produto, mas sim pelo propósito, pela intenção e pela ideia. É invulgar o fotojornalista saber concretamente aquilo que vai fotografar e a congeminência com que se irá deparar. Podemos considerar e contemplar a fotografia como um registo histórico, como um vínculo entre o passado e o presente, enfim como uma memória que faz parte do nosso quotidiano e nos ajuda a edificar e a aprimorar não só o nosso ponto de vista, como também a nossa opinião sobre uma região ou País. As imagens visuais agasalham mensagens, e alguma “topografia” indispensável para a interpretação das mesmas.
O instante da produção da imagem aconchega a subjectividade do fotógrafo, podendo desta forma interferir no semblante do conteúdo e no encadeamento da verdade. A humanidade, observada através da lente da máquina fotográfica, já se encontra metamorfoseada por uma panóplia de condições e raciocínios como a nomeação do objecto e o zoom do retrato. Possibilita-se a edificação de um número superior de significados numa única fotografia, bem como a mistura de vários signos que codificam um significado final que não é ímpar e que se encontra quase sempre escravo do encadeamento e do contexto. Cada “acessório” de uma fotografia alberga significados produtores de outros significados. A cumplicidade de significações entre descoincidentes signos, o somatório desses “portes” e os argumentos culturais e sociais acabarão por fundar dissemelhantes sentidos.
A comunicação jornalística e a sua “figuração” devem estar constantemente ligadas aos conceitos de cidadania e responsabilidade social. Ao observar um determinado acontecimento jornalístico, o fotojornalista captura uma realidade efémera. O fotógrafo também acaba por representar o conteúdo, uma vez que ao escrever um título ou uma legenda vai de alguma forma identificando a própria imagem. A configuração simbólica da imagem possibilita que o recheio da fotografia manufacturada no jornalismo quotidiano seja transferido para um “cardume” de imagens, seguindo sempre os preceitos perfilhados pela “doutrina” da informação.
As expectativas do público, confederadas às necessidades dos profissionais, promovem o progresso tecnológico que possibilitará avultados benefícios para o “miolo” das fotografias. O aperfeiçoamento das objectivas fotográficas e a redução dos períodos de exposição são fundamentais no fotojornalismo, uma vez que irão seguramente “autorizar” a captura do movimento e o “parqueamento” do acontecimento. Será que no fotojornalismo a imagem não deve condensar a notícia e apresentar o fundamental da reportagem, favorecendo deste modo o elo social?