Nas próximas legislativas, seremos no Distrito da Guarda, menos de 80 mil a exercer o nosso direito de votar. Em boa verdade os eleitores serão 153 mil, mas pouco mais de metade exercerão esse direito. A abstenção, entre outras causas, também estará associada ao aumento da idade dos cidadãos e às dificuldades inerentes, designadamente as que se prendem com a mobilidade dos mais idosos. E dos que votarem, a grande maioria vai fazer as suas escolhas de entre dois partidos: o PSD e o PS.
De entre estes partidos, o que tiver mais um voto do que o rival terá 2 deputados e o outro terá 1 deputado. Os pequenos partidos, por mais que se esforcem, não elegerão nenhum representante… pois não estou a ver que algum deles possa vir a ter mais de metade dos votos do partido que sair vencedor. Dos dois maiores partidos, o que perder, caso o cabeça de lista seja figura nacional, poderá nem sequer eleger nenhum representante da Região.
Passo a explicar. Suponhamos que o partido vencedor tem 31 500 votos (perto de 39% dos votos) e o segundo mais votado tem 26 500 votos. Significa que teria de haver um partido – e não há – que tivesse no Distrito perto de 16 mil votos para que pudesse eleger o 3 deputado. Ou seja, todos os votos em outros partidos que não atinjam os 16 mil votos, não contarão para nada. São estas as regras da democracia quando optamos pelo método de Hondt. O 3.º mandato irá assim para o partido mais votado, que somará 2 deputados contra 1 do segundo partido mais votado.
Por isso, por mais que o CDS se esforce por ser a 3.ª força, ombreando com o Bloco, ou por mais que o PAN seja moda, ou a Aliança tente afirmar-se também no nosso Distrito, o certo é que todos esses votos se perderão na transformação dos votos em mandatos de deputado.
O ponto de partida (2015) é praticamente uma situação de empate, como resulta do quadro infra, embora o PSD tenha manifesta vantagem e desta vez vai apresentar-se sem coligação com o CDS. Bastará repetir os feitos de 2011 e de 2015. Verdade que em 2011 (eleições em que fui mandatário distrital), o PSD sozinho conseguiu 3 dos 4 lugares de deputados. E sem coligação com o CDS, que então também concorreu e que teve mais de 10 mil votos. Mas os tempos são agora outros… alcançar 75% dos mandatos é algo que ficará para a história eleitoral do Distrito do século XXI.
Ano | Eleitores | Votantes | PSD | PS | CDS |
2011 | 172 396 | 92 869 | 43 016 | 26 294 | 10 436 |
2015 | 163 462 | 85 469 | 31 171 a) | 28 868 | ————- |
2019 | 153 223 | 79 900 b) | ? | ? |
Notas:
- a) Em 2015 o PSD concorreu coligado com o CDS, tendo ambos obtido 38 964 votos. Considerando o peso do CDS (que nas legislativas de 2011 foi de 11,24% e nas eleições ao Parlamento Europeu 6%) e descontando esses votos, estimo um valor absoluto de 31 171 votos, ou seja, cerca de 80% dos votos da coligação vieram do PSD.
- b) Pela primeira vez, estimo que vão apenas votar cerca de 80 mil pessoas em Outubro próximo.
OBS: Há 4 meses tentámos aqui prever os resultados eleitorais ao Parlamento Europeu. Avançámos então com a seguinte previsão: PS – 9; PSD – 6; PCP – 2; CDS – 2; BE – 1 e Aliança – 1. Acertámos nos primeiros 3 resultados (PS, PSD e PCP), e falhámos ao subvalorizarmos o Bloco de Esquerda e o PAN, que tiveram 2 e 1 deputado, respetivamente, e ao sobrevalorizarmos o CDS, que acabou por ter apenas 1 deputado eleito. Estávamos a 4 meses e em política 4 meses é muito tempo, como na altura não deixámos de referir; mas no essencial não estivemos longe do resultado.