O vocábulo milagre sempre magnetizou a maioria das pessoas. Sempre me definiram essa palavra como algo que não tem explicação ou algo que é irrealizável. Facilmente se percebe que estas duas significações, ao longo dos tempos, não sofreram grandes metamorfoses.
Os milagres na Bíblia abarcam, entre outros, a ressurreição dos mortos, a ejecção de entes malignos, a cura de invisuais, surdos, mudos e aleijados, a transformação de água em vinho, e a multiplicação de pães e peixes. Na verdade, a Bíblia está repleta de relatos de milagres.
Os incrédulos tanto opugnam os milagres, como tentam colocar-lhe a chancela de fenómenos naturais. Provavelmente o maior milagre descrito é o do “convertimento” de uma alma delinquente, pecadora e inanimada, ou seja, uma alma que passou a usufruir de existência perpétua. Na realidade, qualifico “de maior” este milagre pelo facto de os seus corolários serem imortais.
Os milagres profundamente associados à ressurreição, multiplicação e cura acabaram por ter uma longevidade balizada quanto às suas “benfeitorias”. Os que “repulularam” na Bíblia regressaram à condição de morte; os que foram alimentados voltaram a ter desejo de comer, ou seja, fome; e os que ganharam saúde, vigor e robustez voltaram a perder esses contextos.
Será que o vocábulo milagre não agasalha efeitos tanto para os devotos, como para os cépticos? Será que quando procuramos um milagre, não é vantajoso certificarmo-nos se estamos a seleccionar o melhor e o mais completo?
Será que os milagres existem? Se existirem, será que os mesmos ainda ocorrem contemporaneamente? Será que os milagres sucedem com muita intensidade? Será que os milagres não são uma espécie de embustice?
Será que os “milagres” não são desenhados e escoltados pelas vertentes económicas? Será que os milagres devem ser contemplados como autênticos sinais de Deus? Será que os milagres não aquartelam unicamente o temperamento privado?
Será que nos tempos de degradação, marginalização e desmoronamento há muitas representações de Deus? Será que Deus não “confeccionava” os milagres visando exclusivamente a desconfiança do povo judeu? Quais são os “requisitos” necessários para a obtenção de um milagre?
Quando alguém bate à nossa porta e afirma que está com fome, não espera seguramente que coloquemos nas suas mãos a receita e o segredo de determinada comida. Muito menos que lhe comecemos a enuclear, através de uma amena leitura ou de um pardacento e sonolento monólogo, sobre a importância de uma alimentação saudável para o organismo.
Aquilo que é relevante, naquele momento, é trucidar a fome e satisfazer esse desejo incandescente. Será que quem precisa de um milagre, não pretende apenas saber como granjeá-lo? Como degustar a fé que desloca montanhas quando no nosso quotidiano existem tantos escombros, vedações e trincheiras que devem ser “transferidos”?
Será que a Sagrada Escritura é um volume de teorias e doutrinas ou o itinerário para a experiência? Será que a mesma nos indica onde a nascente está acondicionada, bem como o enigma que nos contenta? Será que alguém se consegue avizinhar às aptidões da fé e dos milagres sem se epidemiar por eles, e saborear no espírito alguma fragrância da sua energia regeneradora?
Será que os carismas, magnetismos e seduções não constituem uma força de vida que nos mantém mentalmente despertos, desobscurecidos e iluminados? Será que Deus nos concede a graça de poder experimentar a maviosidade, a afabilidade e o vigor dos sabores espirituais?
Será que algum dia vamos ser testemunhas de que o Senhor intercede, com seu bem-querer e erudição, na vida dos outros e também na nossa? Será que para experimentar essas qualidades tão magnificentes é necessário ser modesto e triunfar perante a irreligiosidade?
Será que todos possuímos a indispensabilidade de que Deus interfira na nossa vida? Será que os milagres podem ser considerados exteriorizações perturbadoras da presença de um Universo sobrenatural?