O Pai Natal Sensato sabia que o Natal estava imerso em irreflectidos impulsos consumistas. Esse consumo desproporcionado estava ligado não só aos presentes que se ofereciam, como também aos elementos que compunham toda a ambiência natalícia.
Os cenários de festividade, de solenidade e de alegria, combinados com as prédicas de cariz religioso que “personificam” e simbolizam a conciliação e a harmonia, provocavam um exagerado sentimento de satisfação e estimulavam o consumo.
O Pai Natal Sensato percebeu rapidamente que o nascimento de Jesus contribuía expressivamente para a edificação de um ambiente animicamente propício ao incremento do dinamismo comercial, onde os chamamentos para a reconquista do semblante religioso do Natal somente usufruíam de “iterações” em superfícies muito limitadas e pontualizadas, nas quais o papel da religião ainda ia sendo valorizado.
Ao contrário dos outros Pais Natais, o Pai Natal Sensato era contra o dispositivo capitalista que se estruturava tanto na produção como no apelo ao consumo. Esse dispositivo capitalista estava muitíssimo vigilante e concentrado em todo este embrulho e, simultaneamente, contava com alguns trunfos fundamentais para atingir as suas finalidades como sejam: a publicidade; o marketing; as redes sociais; os desenhos animados; e o cinema.
O Pai Natal Sensato estava triste e preocupado com todo o invólucro capitalista, no qual “possuir” era mais relevante do que “ser”. O Pai Natal Sensato tinha a noção de que o emaranhado método de “comercialização” das relações sociais aleitava, em inúmeros indivíduos, o sentimento de que os presentes não eram uma forma através da qual se exteriorizava o amor, mas sim o amor na verdadeira ascensão da palavra.
Parecia que não receber um presente era precisamente igual a não ser amado, erguendo-se, desse modo, o “capricho” e a obstinação pelos presentes.
O Pai Natal Sensato pediu ao Ponderado, um fiel amigo que era duende mágico, um saco de pó mágico e espalhou-o pelo mundo inteiro. Esse pó mágico fez com que o consumo se metamorfoseasse em organizado e moderado.
Foram circunscritas as necessidades por compulsão, nas quais a publicidade subliminar, bem como o marketing belicoso e provocador prescreviam as regras e dominavam o jogo.
O comércio deixou de se aproveitar das lendas e do culto para vender quinquilharias como, na maioria dos casos, eram os presentes de Natal.
O Pai Natal Sensato defendeu sempre que o consumismo, por abrigar conveniências empresariais perniciosas, devia ser degustado como uma desfiguração do próprio consumo. Os cidadãos aperfeiçoaram os hábitos de consumo e começaram a ter consciência de que a sedução e a aliciação podem alcançar pergaminhos de efectiva psicopatia consumista universal.
Jesus nunca foi o Pai Natal e os objectivos empresariais nem sempre estão em sintonia com índoles e sentimentos verdadeiramente natalícios e religiosos.
O Pai Natal Sensato, com a preciosa colaboração do seu fiel amigo Ponderado, alterou tudo aquilo que era orquestrado pelas multinacionais do brinquedo, do descartável e do supérfluo. Felizmente que a infundada e desmesurada aquisição destes produtos já não existe, não esmagando assim os orçamentos familiares.