O fast food está indumentado com as insígnias da cozinha industrial, na qual a rapidez e a padronização dos alimentos têm o seu aconchego. Neste sentido, podemos asseverar que os fast food, através da sua subtileza, constituem um sistema que possui habilidade para estruturar e configurar imagens, doutrinas, cânones e códigos interpretáveis por grupos, alvitrando e agrilhoando procedimentos, e provocando uma padronização do gosto na “horizontalidade” mundial. As novas tecnologias e o desenvolvimento das infra-estruturas rodoviárias, tão apregoadas e analisadas na contemporaneidade, possuem um papel primordial neste sistema, uma vez que abreviam as separações espaciais e simultaneamente impulsionam uma moderna configuração topográfica do espaço. Há como que uma organização e articulação das redes de franquias, que possibilitam a nomeação de apenas algumas superfícies terrestres para inauguração dos estabelecimentos comerciais.
Também será pertinente afirmar que nos grandes meios populacionais as cadeias de fast food fazem parte do quotidiano das pessoas. Nas cidades menos populosas essas empresas de fast food acabam por não representar necessidade, pois os ritmos de vida são totalmente diferentes, mas sim ócio. O cardápio dos fast food é exíguo e estéril, os mecanismos de produção são refinados e divididos em procedimentos “circunstanciados”, com a finalidade de economizar tempo. A máquina ofusca e substitui o elemento humano. A cozinha deixa de ser apreciada como uma arte e habilidade pessoal, uma vez que a mesma se metamorfoseia em industrial e comercial, perdendo desse modo a criatividade, o glamour, a fragrância, o brilho, a personalidade, a pigmentação e a identidade.
Para muitos empresários e gestores, a eficiência dos modelos de franquias e a sua célere expansão são consideradas como autênticas oportunidades, na medida em que os mesmos ficam associados a uma marca “proeminente” no mercado. Logo, este tipo de negócio poderá acarretar menos riscos. Será que as principais vantagens do sistema de franquias não aconchegam a difusão; o êxito; a celeridade; a consistência; a massificação; e a flexibilidade?
Os fast food aconchegam uma calorosa inclinação para se localizarem em centros comerciais, pois os mesmos possuem um gigantesco poder de aglomeração e selectividade dos próprios clientes. As cidades de pendor turístico, pela população movediça que encerram, acabam por atrair as organizações fast food, uma vez que é a partir desses centros populacionais que as mesmas conseguem vulgarizar o “paladar universal” para o resto do país.
Desafortunadamente, a “abonação” do tempo na “humanidade globalizada” prescreve que as laborações e refeições sejam efectuadas em períodos de tempo cada vez mais acanhados, edificando-se desta forma um hodierno e ameaçador tempo nas cidades, e uma complexa centralidade, diferenciação e mecanização de trabalho.
Será importante reflectir que o acto “tradicional” de comer, ou o acto de comer à pressa, são um espelho que norteia a rotina social das descoincidentes culturas que existem, localizando e restringindo a dinâmica de disposição e de distribuição dos recursos materiais, e patenteando as desproporções entre aqueles que se adaptam e se apropriam desses recursos, e aqueles que são simplesmente espoliados.
Ligadas ao contentamento, à satisfação e às sensações de gáudio e distracção, as múltiplas figuras e as aborrecidas colecções oferecidas em todas as organizações fast food acabam por amamentar os dons de “domar” e “fidelizar” os consumidores mais novos, e concomitantemente despistar os mais velhos. Portanto, torna-se cristalina a indispensabilidade de se conceber legislação específica de responsabilização social, com o propósito de indumentar as estratégias de marketing e de publicidade com alguma ética, e abandonar definitivamente o consumo alicerçado na “insânia” das marcas, intimamente ligado ao culto da imagem, do status e da representação.
A circunscrição comercial constitui uma área dinâmica que exibe um elevado e célere catálogo de transfigurações. Esta congeminência vai acarretar estudos sistemáticos e coerentes, mas acima de tudo vai apelar por uma verdadeira e transparente compreensão da cidade.
Para terminar, e porque acredito que em diversas ocasiões a vulnerabilidade está mais presente nos adultos do que propriamente no público infantil, coloco aqui uma questão, porventura longa e de difícil resposta, aos meus estimados leitores: Se a sedução, o deslumbramento, a fantasia e o aliciamento que as organizações de fast food outorgam aos seus produtos, com o objectivo de incrementar as suas vendas, fascina aqueles que podem entender a disparidade entre aquilo que os beneficia e aquilo que os lesa, o que podemos aguardar das nossas crianças que pela sua idade e inocência ainda não têm conhecimento e informação para fazer as suas efectivas escolhas?