Mais de uma década a divergir da Europa tinha de ter esta consequência. Não é uma cabala: são factos! Estamos todos mais pobres e o futuro vai trazer novos sacrifícios. O problema é que os que já há muito vêm fazendo sacrifícios dificilmente aceitarão mais!

De tempos a tempos ouve-se, como réplica oficial a notícias e situações jurídicas avançadas pela comunicação social, resposta dada por pessoas com muita responsabilidade – Primeiro-Ministro incluído – que se trata de uma “cabala”. Foi assim em muitos casos e notícias que envolviam de algum modo o Sr. Eng. José Sócrates. Hoje, perante uma economia ameaçada pelos especuladores internacionais, certamente que a teoria da “cabala” ganhará novamente palco.

É como se todos se unissem – agências de “rating”, reputados economistas internacionais, gestores de fundos de investimento, investidores e accionistas –, para contradizer e desmentir os optimismos da governação portuguesa, e isso se ficasse a dever a uma urdidura colectiva contra os méritos do nosso desempenho. São todos uns cegos que não querem ver os bons resultados no caminho do desenvolvimento, ou pelo contrário, desapegados de sentimentos patrióticos olham pela sua vida e pelo seu dinheiro (que nos emprestam) e impõem as condições em que o fazem enquanto credores?!

Pode haver – e há! –, muito de especulação na situação de perda generalizada de valor das empresas portuguesas mas, estivéssemos nós no caminho certo e com medidas correctas, e o ataque não surtiria efeito. Não fosse o “rei nú” e haveríamos de saber responder aos especuladores e não resvalaríamos em plano inclinado para a situação da Grécia. Acabámos de lançar imposto sobre as mais-valias bolsistas e agora só vamos ter menos-valias, logo, inconstitucional (porque retroactiva), esta medida não vai ajudar a combater o défice.

Esta semana, que ainda não acabou, já ditou perdas superiores a 15% do PSI20, o que equivale, segundo o económico.sapo.pt a 5% de toda a riqueza e produção do ano passado, qualquer coisa como 8,5 mil milhões de euros. É quase tanto quanto custa toda a rede de TGV prevista e que agora não passará disso mesmo, de uma previsão, pois não vamos ter dinheiro para a concretizar. Só o BCP, que caiu para os valores mais baixos de sempre, vale agora menos 3 mil milhões de euros! (E ainda consegue pagar vencimentos a administradores suspensos).

Mais de uma década a divergir da Europa tinha de ter esta consequência. Não é uma cabala: são factos! Estamos todos mais pobres e o futuro vai trazer novos sacrifícios. O problema é que os que já há muito vêm fazendo sacrifícios dificilmente aceitarão mais!