Um cartão vermelho à nossa economia, à falta de estratégia e perante a desconfiança dos mercados.

Por estes dias de um novo ano, seria normal a Bolsa dar o ar da sua graça, subindo um pouco, em pré-ajustamento para as posições que permitiriam arrecadar alguns dividendos no final do primeiro trimestre do ano. Contudo, tal não se está a verificar no nosso mercado, ultimamente tão desfasado das realidades bolsistas lá de fora, demasiadamente desfasado, acrescentaria eu.

O que, efectivamente, se verifica é uma enorme debandada dos accionistas e uma queda significativa dos títulos, com todos a cotar no vermelho. É na realidade um cartão vermelho! Um cartão vermelho à nossa economia, à falta de estratégia e perante a desconfiança dos mercados – sejam eles meramente especulativos ou não – o certo é que o capital foge deste jardim à beira-mar plantado.
Digamos que se concentraram demasiados “cutelos” sobre a mesma cabeça, e que o país condenado a medidas sérias de austeridade, depois de festanças e investimentos algumas vezes incompreendidos porque são irracionais, olha agora para o “carrasco” e não sabe o que fazer. Vacila entre morrer ou emigrar, entre sofrer ou continuar, entre desistir ou aguentar, mas sente que a ajuda externa terá de vir, ainda que tal represente o fracasso de tudo quanto se apregoou nos últimos tempos.
O discurso e a carteira não andam de mãos dadas ultimamente. Apregoam-se sucessos e vivem-se amarguras. De uma assentada, quando mais necessitados estávamos de capital, promoveu-se o agravamento da tributação das mais-valias bolsistas, cai o investimento estrangeiro, fogem 200 milhões do BPN (cujos problemas os candidatos presidenciais ousaram trazer para a visibilidade de campanhas eleitorais), adiamos a aplicação dos fundos comunitários de apoio, e continuamos a prometer pagar o que não podemos pela emissão de dívida soberana que se vai avolumando com novos e sucessivos défices orçamentais.
Com tantas contrariedades, já nenhum investidor acredita verdadeiramente e ao fugir da bolsa, ao vender ao desbarato (sim, as acções estão baratas e vão subir um dia…), não mais faz do que dar um valente cartão vermelho a este modelo esgotado de governar. Porquê esgotado? Porque todos o sentimos como tal!