O 24.º aniversário da inscrição dos sítios de arte rupestre do Côa, na lista do Património da Humanidade, é celebrado com a publicação do catálogo da exposição “Graça Morais – Mapas da Terra e do Tempo”.
O anúncio foi feito hoje, dia 30 de novembro, à agência Lusa, pela presidente da Fundação Côa Parque (FCP), Aida Carvalho, no dia em que a carreira da pintora transmontana Graça Morais foi distinguida com o prémio “Personalidade do Norte”, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-Norte).
Em declarações à agência Lusa, Aida Carvalho disse que esta decisão de lançar o catálogo da exposição, na data comemorativa dos 24 anos da classificação da arte do Côa, serve para assinalar ligações com a arte paleolítica, patente nos quadros da pintora transmontana, em exposição no Museu do Côa (MC) até 12 de janeiro de 2023.
O catálogo será apresentado publicamente no MC na sexta-feira, dia 2 de dezembro, numa sessão que contará com a presença da pintora Graça Morais.
“Este catálogo da exposição ‘Graça Morais – Mapas da Terra e do Tempo’, vai mais além do que aquilo que está patente e junta, a título de exemplo, alguns elementos da Arte do Ferro que são combinados com as peças em exposição. Este catálogo não é exclusivo das telas patentes no MC, aqui juntam-se, igualmente, vários apontamentos da arte paleolítica do Côa [30.000 anos] entre outros períodos históricos “, vincou Aida Carvalho.
“Graça Morais: Mapas da Terra e do Tempo” é uma exposição de pintura da artista transmontana patente no MC desde junho, e que reúne 50 obras inspiradas na arte rupestre.
A sintonia com a arte do Paleolítico “sobressai sobretudo no seu virtuoso desenho, visível na sobreposição de linhas e formas, na interrupção abrupta do traço ou na aglomeração dos elementos, onde a relação com as gravuras do Côa não só salta à vista, como é transversal ao conjunto de trabalhos, alguns deles inéditos, criteriosamente reunidos para esta exposição”, pode ler-se na descrição da mostra de Graça Morais.
“Esta minha exposição é um encontro com as gravuras paleolíticas do Côa e com esta manifestação dos primeiros artistas. Por este motivo, tentei reunir obras que, em 1983, tiveram como ponto de partida certas imagens das grutas de Altamira em Espanha, ou a enigmática figura, conhecida pelo ‘homem-bisonte’, encontrada na caverna de Les Trois-Frères, em França, ou a Vénus de Willendorf”, explicou, em entrevista à Lusa, Graça Morais, no passado dia 3 de junho, quando da inauguração da mostra.
A Arte do Côa foi uma das mais importantes descobertas arqueológicas do paleolítico superior, nos finais do século XX, em toda a Europa.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a CCDR-Norte justificou a atribuição do prémio “Personalidade do Norte” a Graça Morais, pelo “relevante e singular legado artístico e cultural” da artista, e pelo “nortenho telurismo mágico da sua obra”.
A pintora, em reação à Lusa, disse que a atribuição do prémio foi uma “grande surpresa” que a deixou contente, por ser de uma região a que está ligada, e por ser reconhecida pelo seu trabalho “da mesma forma que reconhecem um homem”.
Em 2021, na primeira edição do prémio, foi distinguido o arquiteto Álvaro Siza.
Graça Morais nasceu em 1948, na aldeia do Vieiro, concelho de Vila Flor, no distrito de Bragança, formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, foi depois bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.
Numa carreira de quase 50 anos, realizou e participou em mais de uma centena de exposições, no país e no estrangeiro, e a “sua obra está representada nas grandes coleções de arte contemporânea em Portugal e em diversas outras além-fronteiras”, como destaca a CCDR-Norte.
Em 2008, viu inaugurado o Centro de Arte Contemporânea com o seu nome, em Bragança, da autoria do arquiteto Eduardo Souto de Moura.
Entre outras distinções, recebeu o Grande Prémio Aquisição da Academia Nacional de Belas-Artes, foi agraciada com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo presidente da República Jorge Sampaio, e com a Medalha de Mérito Cultural pela ministra da Cultura Graça Fonseca.
É membro da Academia Nacional de Belas Artes e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O prémio “Personalidade do Norte” é entregue hoje à tarde no 2.º Fórum Autárquico da Região Norte, em Viana do Castelo.