António Costa, líder do Partido Socialista, o grande vencedor desta noite eleitoral, já falou aos portugueses e admitiu que os resultados destas eleições demonstram que os eleitores “gostaram da geringonça” e “desejam a continuidade da atual solução política”
“Em primeiro, os portugueses desejam um novo Governo do PS reforçado para governar com estabilidade no horizonte da próxima legislatura. Em segundo, os portugueses gostaram da geringonça e desejam a continuidade da atual solução política agora com um PS mais forte”, vincou António Costa perante as centenas de apoiantes do partido no Hotel Altis, em Lisboa, onde a direção do PS esteve reunida para analisar os resultados eleitorais desta noite.
O também primeiro-ministro revelou que o partido vai estabelecer contactos com o PAN para “um acordo político no horizonte da legislatura”, assim como com o Livre, que elegeu pela primeira vez um deputado, e “cuja presença no parlamento” o PS entende “como um reforço da solução política que produziu boas políticas e, sobretudo, bons resultados”.
“Vamos procurar juntos dos nossos parceiros parlamentares renovar a solução política que os portugueses disseram que querem continuidade”, frisou Costa, realçando que os socialistas vão “empenhar-se, como é seu dever, em garantir a construção das soluções de estabilidade” para os próximos quatro anos.
O dirigente socialista reforçou a ideia de que “a estabilidade política é essencial à credibilidade internacional” de Portugal, acrescentando que é esse “o reforço da confiança que permite o investimento”.
Questionado pelos jornalistas depois da sua intervenção sobre o caso de Tancos, António Costa recusou responder a perguntas sobre este tema e foi perentório na recusa de entendimentos com o Chega, que também elegeu pela primeira vez um deputado.
“Não contamos com o Chega para nada”, frisou.
Em relação a BE e PCP, o dirigente socialista considerou que “consolidaram, no essencial, a sua posição eleitoral” e o PAN “registou um reforço politicamente relevante”.
Durante o discurso, o secretário-geral do PS também se debruçou sobre a abstenção neste ato eleitoral.
“Saúdo todos por igual. Aqueles que, no exercício da sua liberdade, exerceram o seu direito cívico de votar, mas saúdo também aquelas e aquelas que em consciência entenderam não exercer o seu direito de voto”, afirmou, considerando que “a elevada taxa de abstenção é um fator que, independentemente das explicações técnicas que existam, deve ser motivo de reflexão por parte de todos os responsáveis políticos”.
António Costa afirmou que a “democracia fortalece-se na festa eleitoral” e que este deve ser um direito “exercido por todos com convicção e com vontade”, deixando o repto para que todos os partidos, em conjunto, trabalhem para nos “próximos atos eleitorais possamos reduzir a taxa de abstenção que existe” em Portugal.
O chefe de Governo também agradeceu aos portugueses que “depositaram no PS a sua confiança para governar” o país durante os próximos quatro anos, um voto de confiança que Costa diz que o Governo vai assumir “com determinação, alegria e elevado sentido de responsabilidade”.
O secretário-geral do PS falou ainda da trajetória que o país vai seguir em relação à União Europeia.
“Como faz parte do ADN socialista, nunca cederemos na defesa de uma Europa mais forte, mais coesa e mais solidária, porque é na Europa e com a Europa que construiremos o nosso futuro”, finalizou.
Costa sugere que Bloco tem responsabilidades acrescidas numa solução estável
O secretário-geral do PS deixou hoje um aviso ao Bloco de Esquerda, dizendo que quem assumiu como objetivo impedir a maioria absoluta dos socialistas tem agora responsabilidades acrescidas para assegurar uma solução de estabilidade política.
“Quem fixou como objetivo único da sua campanha eleitoral impedir uma maioria absoluta do PS, tem responsabilidades acrescidas de agora contribuir para a estabilidade política nos próximos quatro anos”, declarou António Costa na conferência de imprensa da noite eleitoral dos socialistas, numa alusão ao Bloco de Esquerda.
Na conferência de imprensa, o líder socialista disse que a sua prioridade será tentar uma solução estável governativa após um entendimento com os seus atuais parceiros, mas avisou que essa responsabilidade “é partilhada” e que, se isso não for possível, terá de “procurar caminho”.
“Independentemente da vontade dos outros, a nossa vontade firme e a nossa determinação é garantir quatro anos de estabilidade para Portugal no quadro parlamentar que os portugueses definiram”, disse António Costa, que apontou diferenças entre o PCP e o Bloco de Esquerda na reação aos resultados das eleições legislativas de domingo.
“O PCP já disse que o quadro político é diferente e que não está disponível para repetir o que há quatro anos aceitou. Vamos ver se é assim ou se pode evoluir na sua posição. O Bloco de Esquerda disse que pode ser assim, como também poderia ser de forma diferente”, observou.
Ou seja, segundo António Costa, “se for possível dessa forma” encontrar estabilidade política, “excelente; se não for possível dessa forma, ter-se-á de encontrar caminho para assegurar a estabilidade”.
Mas o secretário-geral do PS deixou ainda mais avisos ao Bloco de Esquerda e PCP sobre a possibilidade de estas forças políticas aumentarem o caderno de encargos junto do seu Governo.
“Cada uma assumirá as suas responsabilidades. No exterior, elogiam Portugal por ter garantido quatro anos de estabilidade governativa – uma vantagem que não podemos desperdiçar, porque isso traduz-se em resultados concretos. Tudo faremos para garantir a estabilidade política em Portugal e se os outros não nos acompanharem assumirão as suas responsabilidades”, frisou.
Neste ponto, o líder socialista pronunciou-se depois sobre o caderno de encargos colocado ao próximo Governo, designadamente por parte do Bloco de Esquerda.
“O caderno de encargos de cada partido é conhecido, porque é o seu programa eleitoral. O programa eleitoral do Bloco de Esquerda e do PCP foi conhecido e teve o resultado o apoio que os portugueses entenderam dar-lhes. O nosso caderno de encargos é o programa eleitoral do PS e que teve um apoio claramente reforçado nestas eleições”, respondeu.
António Costa deixou depois mais uma advertência às forças à esquerda dos socialistas, apontando que “não são só os outros que tem caderno de encargos”.
“Nós também temos e foi aquele que os portugueses sufragaram., A nossa responsabilidade é tomar a iniciativa. A responsabilidade dos outros é não fecharem a porta”, declarou.
Interrogado sobre se o próximo Governo não nasce de mãos atadas, tal como afirmou temer ao longo da campanha eleitoral, o secretário-geral do PS sustentou que, “manifestamente, os portugueses deram um voto para a continuidade da atual solução política”.
“É essencial para a credibilidade internacional do país, para garantir confiança dos investidores e criarem-se mais postos de trabalho haver estabilidade política no país”, insistiu.
Costa lança farpas à Direita
O líder socialista acusou o PSD e o CDS-PP de não terem apresentado uma “alternativa credível” ao Executivo do PS e garante que, foi isso, junto com uma “campanha eleitoral assente em acusações”, que fez com que a Direita tivesse “a maior derrota histórica” do partido.
“O PSD e o CDS, mesmo com o reforço da Iniciativa Liberal e do Chega!, tiveram a maior derrota da história da Direita. Não apresentaram uma alternativa credível ao PS”, sublinhou, acrescentando que ficou clara “a rejeição que os portugueses fazem de uma campanha eleitoral assente em casos e ataques pessoais”.