Vestígios de primitivas construções detetadas no interior do castelo de Sortelha

Escavações arqueológicas realizadas no interior do castelo de Sortelha, no concelho do Sabugal, revelaram a existência de primitivas construções, com destaque para um edifício central que terá sido utilizado entre os séculos XV e XVIII.

Segundo Marcos Osório, do Gabinete de Arqueologia do Município do Sabugal, os principais resultados das escavações realizadas no âmbito do projeto de implementação de iluminação cénica no interior do castelo “permitiram detetar a existência das paredes de um edifício central, adossado à muralha, com a dimensão de 6×5 metros, ao qual encostavam dois outros de menores dimensões lateralmente”.

“As paredes foram reforçadas quando sofreu remodelações e ganhou um piso superior, sendo as marcas da parede do castelo, possivelmente, testemunhos desse piso superior. Por isso, agora consideramos que a datação de utilização deste edifício poderá oscilar entre o final do século XV e século XVIII, com uma forte utilização especialmente no século XVII”, explicou o arqueólogo à agência Lusa.

Marcos Osório disse ainda que durante os trabalhos realizados nos três últimos meses no interior do castelo de Sortelha, construído em meados do século XIII, foi identificado o derrube dos telhados dos primitivos edifícios “e grande parte das pedras de cantaria dos vãos encontrava-se também entulhada no interior das casas, tendo a restante cantaria sido empregue no restauro do castelo nos anos 1940-1950”.

Os arqueólogos ficaram surpreendidos com os achados, contou, alegando que não suspeitavam “que o exíguo espaço atual do recinto fortificado de Sortelha pudesse albergar estas estruturas soterradas, bem conservadas, algumas com mais de meio metro de altura”.

Os trabalhos arqueológicos incidiram também sobre o abastecimento da cisterna existente, concluindo os investigadores que a água devia brotar no seu interior, porque não foram identificadas condutas ou canais.

Durante as escavações foram recolhidos materiais relacionados com o dia-a-dia dos antigos residentes no interior do castelo, nomeadamente um ceitil (moeda) do Rei Dom Manuel, uma fivela de bronze, contas e missangas vítreas de um colar e cerâmicas.

“Estranhamente, não foi recolhida nenhuma peça de balística ou de armamento de arremesso até ao momento, como sucedeu em outros castelos da raia escavados, demonstrando que a fortificação foi um baluarte defensivo pacífico”, anotou o responsável.

As escavações, coordenadas pelos arqueólogos Marcos Osório e Paulo Pernadas, foram temporariamente interrompidas e serão reiniciadas em meados do mês de agosto.

“Está definido, neste momento, que as ruínas serão conservadas e restauradas, para usufruto dos visitantes do castelo, trabalho que terá ainda alguma planificação a fazer”, disse Marcos Osório.

Entre 1995 e 1997 Sortelha foi sujeita a um amplo programa de escavações e de acompanhamento arqueológico durante o projeto de reconversão em Aldeia Histórica de Portugal, mas o interior do castelo nunca chegou a ser escavado.


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