Os autarcas de Vilar Formoso e de Fuentes de Oñoro (Espanha) estão disponíveis para trabalhar em conjunto com o objetivo de combater a interioridade e as adversidades próprias dos territórios fronteiriços.
As duas localidades, que em 1993 foram afetadas pela abolição das fronteiras, têm agora pela frente o desafio da ligação entre as autoestradas A25 (Aveiro/Vilar Formoso) e espanhola A62.
“Nós temos uma grande preocupação, que vai ser a ligação entre a A25 e a A62, que poderá retirar um dos últimos recursos económicos que temos, que é a passagem dos turistas e a passagem dos camiões pela vila de Vilar Formoso”, disse à agência Lusa o presidente da Junta, Manuel Gomes.
Segundo este responsável, é uma preocupação que deixa autarcas e comerciantes “muito despertos” para tentarem “arranjar contrapartidas a essa situação, que vai ser, de certeza, mais um ponto de viragem na situação económica de Vilar Formoso”.
Em sua opinião, o comércio terá de ser deslocalizado para junto do nó de ligação das duas autoestradas e criada “uma plataforma onde as empresas possam investir, possam criar uns polos logísticos, onde as empresas de camionagem possam distribuir as cargas que trazem da Europa para os diferentes locais” do país.
Na opinião de Manuel Gomes, será um projeto que permitirá criar postos de trabalho e fixar jovens, que atualmente encontram trabalho no lado de lá da fronteira, em Fuentes de Oñoro.
Com a ligação por autoestrada entre os dois países, o vice-presidente do Ayuntamiento de Fuentes, João Luís Bravo, estima que, se nada for feito, a localidade possa perder “à volta de 300/400 empregos” diretos.
O Governo de Espanha já foi alertado para isso, mas o autarca transmite preocupação porque, em Portugal, o Governo ainda dá alguma atenção às zonas de fronteira, mas em Espanha as populações estão “completamente abandonadas”.
“É evidente que o Poder Central cada vez se vira mais para o litoral. O nosso poder ao nível de votos (…), cada vez é menor, porque cada vez temos menos população. Cada vez temos menos força para influenciar os nossos políticos. Por isso, eles, apesar de não nos esquecerem, a importância que nós temos cada vez é menor e cada vez dedicam menos tempo ao Interior”, observa o autarca de Vilar Formoso.
Para o espanhol João Luís Bravo, os problemas dos territórios raianos “são efetivamente os mesmos”.
“Os problemas que acontecem aqui [em Fuentes de Oñoro], acontecem de igual maneira no outro lado da raia”, disse.
Segundo o autarca, “a perda de empregos, de empresas, de jovens, o despovoamento completo e o pagamento de portagens” são aspetos marcantes de uma área que considera ser a “mais deprimida de Espanha e de Portugal”.
Para inverter a situação, defende que sejam retiradas as portagens da A25 “para que os portugueses continuem a vir [a Espanha] e os espanhóis continuem a ir a Portugal, sem restrições de nenhum tipo”. Também pede “mais empresas” para fixar os jovens nas aldeias que “estão sem população”.
No caso de Vilar Formoso, os residentes encontram emprego no lado de lá da fronteira, onde os ordenados são mais elevados.
“É fundamental trabalharmos em conjunto. Fuentes de Oñoro, pelos ordenados que paga [que são elevados], tem muita população de Vilar Formoso [ali] a trabalhar. Se o comércio continuar a funcionar, de certeza que teremos trabalho para todos”, vaticina o autarca português.
Para Manuel Gomes, “é fundamental que as duas vilas”, com um total de cerca de quatro mil pessoas, continuem a trabalhar em conjunto, pois conseguem ter restauração, piscinas, hotelaria e comércio a funcionar.