Queijeira de Seia faz queijos à moda antiga e cuida deles como se fossem meninos

A mulher começou a fazer queijo aos oito anos, com a mãe, e nunca fez outra coisa na vida, dando continuidade a uma tradição familiar que herdou dos antepassados.

A queijeira Maria dos Anjos, de 77 anos, residente em Pinhanços, Seia, faz queijos da Serra da Estrela à moda antiga e assegura que os trata como se fossem meninos, pela atenção que lhes dá diariamente.
A mulher começou a fazer queijo aos oito anos, com a mãe, e nunca fez outra coisa na vida, dando continuidade a uma tradição familiar que herdou dos antepassados.
A queijeira adiantou à agência Lusa que sempre fez queijo artesanal, com leite de ovelha bordaleira, raça típica da Serra da Estrela, na cozinha da sua casa, e que, pela idade, nunca aderiu às exigências que obrigaram à construção de queijarias.
“Eu achei-me sempre bem na cozinha, portanto, é assim que eu o faço. É como a minha mãe me ensinou, e via fazer aos meus avós e tudo porque a antiguidade é mesmo assim. Agora, é tudo mais moderno, mas eu não, foi sempre isto, sempre, sempre, sempre”, afirmou.
O queijo, que é feito numa francela em madeira colocada na cozinha da sua casa, em frente da lareira, passa por três cinchos (aros em inox que apertam e espremem a massa do queijo) e por vários panos, antes de ser curado numa dependência do rés-do-chão que foi adaptada para sala de cura.
Na última fase do processo, o queijo acabado de fazer é envolvido num pano e “prensado” com uma grande pedra, onde permanece durante 24 horas. Depois, é retirado da “prensa”, é esfregado com sal e colocado nas tábuas de cura, onde ficará cerca de mês e meio.
Durante um determinado período de tempo o queijo é “virado todos os dias e o pano é mudado”, daí que Maria dos Anjos diga que os queijos são autênticos meninos pela atenção que requerem no dia-a-dia.
Explicou que na fase inicial de cura o queijo “deita muita impureza” e “se a gente não o mudar para outros panos e virar, depois, colhe muito cheiro [e] não fica bom”. Quanto às exigências impostas atualmente ao setor, a queijeira do concelho de Seia considera que não correspondem à tradição e levaram muitos produtores da região a desistir da produção do queijo e a venderem o leite diretamente para as queijarias.
A mulher lembra que no passado só a aldeia de Pinhanços tinha “umas 20 ou 30 pessoas” que faziam queijo: “Era casa sim, casa não. Agora só somos duas a fazer”. Maria dos Anjos reconhece que a produção de queijo Serra da Estrela tem vindo a diminuir “por causa de exigirem muitas coisas” e refere que “preferia deixar de fazer” a ter de aderir aos padrões modernos.
A queijeira orgulha-se de fazer queijo pelo método ancestral, a partir do leite das suas 80 ovelhas, que é coalhado com a utilização de cardo (coagulante natural) produzido na sua quinta. Lamenta que os mais novos não se interessem pela tradição, mas mostra-se contente por a sua família fazer a diferença, indicando que os filhos, os netos e os bisnetos “gostam de ovelhas” e alguns estão ligados ao setor.


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