Cerca de meio milhar de professores e educadores, segundo estimativas da polícia, manifestaram-se hoje, 27 de janeiro, na Guarda, no dia de paralisação em todo o distrito, reivindicando melhores condições para a classe e exigindo “respeito” por parte do Governo.
Depois de uma concentração em frente da Escola Secundária da Sé, os participantes seguiram para junto do Mercado Municipal da Guarda onde iniciaram um desfile em direção à Praça do Município, junto dos Paços do Concelho.
Durante percurso, os manifestantes ergueram bandeiras e entoaram palavras de ordem, sempre acompanhados pela batida de dois bombos, tocados pelas professoras Elisabete Lopes e Ana Gonçalves.
Elisabete Lopes, de 53 anos, professora de Matemática e Ciências na Escola Beatriz Ângelo, na Guarda, com 30 anos de carreira, disse à Lusa que decidiu tocar bombo durante a manifestação “para chamar a atenção” do ministro da Educação para as reivindicações dos professores.
“Ao fim do mês levo 1.500 euros para casa. É um ordenado digno para um professor com 30 anos de serviço?”, questionou.
Ao seu lado, a outra tocadora de bombo, Ana Gonçalves, de 37 anos, professora contratada na Escola da Sé, também na Guarda, desde 2009, explicou desta forma a utilização do instrumento musical: “O bombo serve para o senhor primeiro-ministro e o senhor ministro da Educação ouvirem a nossa luta e para que tenham respeito pela Educação”.
“Queremos mais estabilidade. Os professores não têm direito a ter família”, disse.
Por sua vez o professor Rui Gerardo, de 38 anos, com 23 anos de serviço, licenciatura, pós-graduação e mestrado, referiu que as habilitações não lhe são contadas para a progressão na carreira, porque as obteve “quando era professor contratado”.
Fernando Costa, 56 anos, professor há 35 anos, a lecionar na Escola de São Miguel (Guarda) a disciplina de Educação Visual e Tecnológica, pediu “respeito” ao Governo: “Estamos fartos. O masoquismo a que nos sujeitámos estes anos tem de acabar, porque não somos burros de carga, nem somos culpados das asneiras de sucessivos Governos que não investiram na Educação”.
Adelaide Nunes, com 50 anos, professora efetiva de História em Figueira de Castelo Rodrigo, com 30 anos de serviço, pediu aos governantes que “respeitem” os docentes, porque têm “todos os dias o futuro do país nas mãos”.
Gastão Antunes, professor de Biologia em Pinhel, com 60 anos, exibia ao peito uma mensagem por se mostrar “indignado com injustiças e chantagens” para com os professores da escola pública.
Contou que o cartaz que expunha surgiu no seguimento de um episódio quando o primeiro-ministro disse que “ou havia dinheiro para os professores ou para obras no IP3”. “O IP3 está pior e os professores estão piores. Para onde é que foi esse dinheiro?”.
Durante o protesto hoje realizado na cidade mais alta do país, com baixas temperaturas e alguns vestígios da neve que caiu na quinta-feira, os participantes exibiram cartazes com mensagens como “respeito”, “valorização”, “reconhecimento”, “os professores acordaram, habituem-se” e “professores a lutar, também estão a ensinar”.
Também foram bradadas as palavras de ordem: “Costa escuta, a Guarda está em luta”, “Não paramos, não paramos”, “Ministro escuta, professores estão em luta”, “Os anos trabalhados não podem ser roubados”, “Todo o tempo é para contar, não é para apagar”, “Nenhum jovem aguenta, precários até aos 50” e “Queremos a aposentação, muito antes do caixão”.
Segundo o Secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, que esteve presente no protesto, a adesão à greve no distrito da Guarda foi hoje de 97%.
A greve de professores por distritos, promovida por nove estruturas sindicais, arrancou em 16 de janeiro e vai terminar em 08 de fevereiro.
Na segunda semana de luta, o sindicalista referiu à Lusa que a adesão registada nos vários distritos tem sido “extraordinária”.
“É uma greve extraordinária que tem vindo a crescer e esta quantidade de professores que vêm para a rua, como hoje aconteceu, tem a ver com o facto de estarmos aqui nove organizações sindicais. Eu não me lembro de os professores terem greves com este tipo de adesão”, disse Mário Nogueira.
A greve nacional por distritos está a ser promovida por nove organizações sindicais: Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Pró-Ordem dos Professores – Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (SEPLEU), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (SINAPE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU) e Federação Nacional de Educação (FNE).
Os professores exigem melhores condições de trabalho e salariais, o fim da precariedade, a progressão mais rápida na carreira, e protestam contra as propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento e colocação, que está a ser negociada com os sindicatos do setor.