Dois em cada dez condutores portugueses consideram que os assentos elevatórios – conhecidos como “banquinhos” – são o melhor sistema de segurança para transportar crianças acima dos quatro anos. Mais de cinco em cada dez automobilistas optam mesmo por este modelo, sobretudo acima dos oito anos. Só 61% dos inquiridos num estudo do Automóvel Club de Portugal (ACP) indicam as cadeiras completas como o sistema mais seguro para transportar os menores até aos 12 anos ou até aos 1,35 metros de altura.
As conclusões antecipadas ao jornal PÚBLICO fazem parte de um estudo feito pelo ACP com o apoio da Cybex, uma marca de cadeiras de segurança para crianças. O trabalho contou com um inquérito feito a mais de 2300 portugueses que no último ano tinham transportado no carro uma ou mais crianças com menos de 1,35 metros e com menos de 12 anos e 19% dos participantes ainda admitem que não distinguem as diferenças entre as cadeiras completas e os banquinhos. O inquérito surge na sequência de outros estudos do ACP sobre os hábitos e costumes dos condutores e a importância de as crianças viajarem no sentido contrário à marcha.
Quase 64% dos inquiridos eram homens, 48% tinham carta há mais de 26 anos e em 51% dos casos percorriam entre 30 e 200 quilómetros de carro por semana, acompanhados por crianças. Questionados sobre se os carros onde viajam têm um sistema de retenção de crianças conhecido como isofix, 55% disseram que sim, mas 10% não sabiam responder. Menos de 1% das pessoas estiveram envolvidas em acidentes com crianças mas, quando tal aconteceu, duas em cada dez pessoas não estavam a utilizar os sistemas de retenção adequados nos menores. Um trabalho publicado em 2014 pela Associação para a Promoção da Segurança Infantil também alertava que, apesar de mais de 85% das crianças viajarem no automóvel com cadeirinha, só metade eram transportadas corretamente.
Os dados mostram também que quase 45% dos condutores consideraram as colisões traseiras como as mais frequentes, seguidas pelas colisões frontais, laterais e despistes. Contudo, a este propósito, o ACP salienta que os dados da realidade demonstram que 46% dos acidentes resultam de despistes, seguidos pelas colisões laterias, traseiras e frontais. Quanto à gravidade, neste caso 44% dos condutores identificam a colisão frontal como a pior, seguida dos despistes, colisões laterais e colisões traseiras. Neste caso, o ACP confirma que as percepções dos inquiridos vão ao encontro das estatísticas.
O ACP avança também no mesmo trabalho com os resultados de testes que avaliaram as consequências de impactos laterais consoante as cadeirinhas de transporte e alerta que “uma cadeira com encosto de cabeça e protectores laterais reduz seis vezes o risco de lesões na cabeça num impacto lateral quando comparado com um assento elevatório”. Para o ACP, esta conclusão reforça a “importância de transportar uma criança numa cadeira completa, com encosto de cabeça e proteções laterais durante o máximo de tempo possível”. No entanto, entre os inquiridos, quase 20% seleccionam o assento elevatório como a melhor forma de transportar as crianças com mais de 25 quilos (aproximadamente oito anos) e 7% dão a mesma resposta para os 18 quilos (quatro anos). Há 13% de inquiridos que admitem desconhecer as melhores soluções.
“A maioria dos inquiridos acha que as colisões na traseira e as frontais são os acidentes mais comuns, mas a realidade mostra que são os despistes e as colisões laterais os que mais acontecem. Quanto à gravidade dos acidentes, a perceção dos inquiridos e a realidade nas estradas portuguesas são coincidentes, pois as colisões frontais são de facto os acidentes mais gravosos, seguidas dos despistes e, em terceiro lugar, pelas colisões laterais”, lê-se no trabalho do ACP.
A acompanhar este estudo será lançada uma campanha, composta pela distribuição de folhetos informativos e por vídeos online, que pretende passar uma mensagem: “uma criança deverá viajar numa cadeira completa com encosto e protecção lateral até atingir a altura de 1,35 metros ou os 12 anos de idade”. Será também dada informação sobre as características a ter em consideração quando se compra uma cadeira de segurança e os cuidados a ter na sua utilização e instalação. Por exemplo, após um acidente o estado da cadeirinha deve ser sempre avaliado. O ACP explica que tanto a cadeira completa como o assento estão dentro da legislação, mas defende que “é possível melhorar a proteção e a segurança da criança” com a escolha do método mais completo.
Menos sinistralidade
Apesar das recomendações de uso de cadeira completa ou de banquinho, em média, a PSP tem detetado nos últimos anos mais de 1300 casos de condutores que transportavam crianças sem cadeirinha – quando esta força de segurança também recomenda que as crianças com menos de 1,35 metros usem sempre equipamentos homologados e adaptados ao seu tamanho e peso. A PSP recomenda também que a criança experimente sempre a cadeira antes de ser comprada e que o condutor verifique regularmente os cintos de fixação na cadeira e se está bem presa ao banco do carro, além de transportar a criança virada para trás até aos quatro anos.
Apesar do desconhecimento demonstrado por este e por outros trabalhos, nos últimos cinco anos os dados de sinistralidade rodoviária relativos a crianças têm vindo a melhorar, com uma redução de mais de 55% no número de vítimas mortais, de 22% nos feridos graves e de 19% nos feridos leves. No total, de 2010 a 2014 morreram 69 crianças nas estradas portuguesas, oito das quais no ano passado. A maior parte dos acidentes com vítimas aconteceram dentro das localidades, que concentram aliás 74% das crianças que perderam a vida.
“No mesmo período, a descida da sinistralidade de todos os grupos etários foi de 31,9% nas vítimas mortais, de 18,8% nos feridos graves e de 15,9% nos feridos leves. Isto significa que em 2010, as crianças (até aos 14 anos) vítimas mortais em acidentes rodoviários representavam 1,9% do total, e em 2014 apenas representaram 1,3%”, diz o ACP. No que diz respeito aos feridos graves, a percentagem de crianças foi de 5,1% do total em 2010 e de 4,8% em 2014, e os feridos leves foi de 6,5% do total em 2010 e de 6,2% em 2014.