Jovem de Seia garante continuidade dos chinelos de pano típicos da Serra da Estrela

Uma jovem residente em Santa Marinha, Seia, dedica-se à produção de chinelos de pano típicos da Serra da Estrela, dando continuidade a um artigo que antigamente era feito com sobras de tecidos das fábricas têxteis da região.

Rita Paiva, de 34 anos, designer de comunicação numa empresa de Oliveira do Hospital (Coimbra), começou a fazer este género de calçado em 2012 e nunca mais parou.

A jovem, que apenas se dedica à atividade artesanal nas horas vagas, recuperou uma arte tradicional que estava em vias de desaparecer e os seus produtos são vendidos no país e no estrangeiro.

A artesã contou à agência Lusa que o interesse pelo fabrico deste calçado típico da Serra da Estrela, que era produzido por chineleiras da terra onde vive, a partir de restos de burel e de outros tecidos têxteis de sobras das fábricas da região, “começou com o reviver [de] algumas memórias”.

“Eu encontrei alguns chinelos antigos no sótão da minha sogra, que era a mãe dela que fazia chinelos e todas as avós daqui [aldeia de Santa Marinha, concelho de Seia, distrito da Guarda], e resolvi retalhar alguns tecidos e reinventá-los”, lembrou.

Rita Paiva inovou na produção e aos primitivos modelos de inverno, que são “extremamente quentes”, por serem produzidos com tecido polar ou com lãs naturais, juntou uns de verão, que são feitos com tecidos de algodão, seda ou linho.

“Mexendo nos materiais conseguimos resultados diferentes e consegui ter chinelos de verão, com o mesmo ‘design’, com o mesmo modelo, simplesmente mexendo nos tecidos”, referiu.

A artesã chineleira garante que cada par que sai das suas mãos já “é único”, mas a nova aposta é personalizá-los.

“Ando a estudar maneiras de estampagem e que fiquem os chinelos engraçados”, disse à Lusa, explicando que as pessoas podem enviar fotografias, temas, ou até os próprios tecidos para a sua confeção.

A ideia é dirigir o seu trabalho para “um público mais específico”, porque pretende “acrescentar valor aos chinelos para que eles possam ser valorizados nesse sentido”.

No país, os “Chinelos d’Avó” de Rita Paiva são comercializados em lojas de Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Fátima, Guimarães e Aveiro, entre outros locais, enquanto no estrangeiro são vendidos na Holanda, em Inglaterra e no Canadá.

Também vende para o estrangeiro através da internet: “Estou alistada a um ‘site’ de vendas de produtos de artesanato, onde eles me contactam, fazem a encomenda e eu envio por correio”.

A jovem que faz tudo para “não deixar morrer” os sapatos tradicionais de trazer por casa da região da Serra da Estrela reconhece que executa um trabalho difícil e demorado e que “requer muita habilidade com as mãos”.

A artesã, que não faz ideia de quantos pares já fez, explicou que o processo de fabrico começa com o corte, pelo molde, do tecido a utilizar e termina com o “aparar”.

Pelo meio estão, entre outras operações, a colocação da biqueira, a feitura da sola (com quatro camadas de tecido), a colocação da palmilha e da gáspea [a parte de cima que cobre o pé].

Cada par de chinelos de pano leva cerca de duas horas a fazer e é vendido a partir de 15 euros.


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