Duas familiares do casal que terá sido assassinado por Pedro Dias, em outubro de 2016, recordaram hoje no Tribunal da Guarda que constituíam uma família feliz até aos crimes de Aguiar da Beira.
Na segunda sessão do julgamento de Pedro Dias, que teve início na sexta-feira, o Tribunal da Guarda começou por ouvir Maria de Fátima Lino, a mãe de Liliane Pinto, que acabou por falecer cerca de cinco meses após ter sido alvejada.
“Éramos uma família feliz, agora não somos”, referiu, emocionada, enquanto recordava a véspera do dia em que a sua filha e o seu genro foram baleados.
Depois de entrar na sala de audiência olhando fixamente para Pedro Dias, a mãe de Liliane Pinto precisou de algum tempo para se recompor e partilhar com o Tribunal da Guarda que era habitual a sua filha dar um toque ou ligar sempre que chegavam a Coimbra, onde estava a fazer tratamentos de fertilidade.
Naquele dia, tal não aconteceu, o que a deixou com “o coração a palpitar”, com a possibilidade de ter ocorrido um acidente rodoviário, já que a filha também não respondia às várias tentativas de chamada.
Apesar de o casal ter saído cedo de casa, por volta das 05:30 do dia 11 de outubro de 2016, só pelas 18:30 acabou por ter conhecimento da morte do seu genro e de que a sua filha estaria em estado muito grave no Hospital de Viseu.
“Fui vê-la no dia a seguir e a minha filha estava numa lástima. Apenas tinha os olhos abertos, apertava-me a mão e mexia os lábios, mas penso que ouvia tudo o que dizíamos”, recordou, acrescentando que a visitou todos os dias em que esteve internada em Viseu e depois na Unidade de Cuidados Paliativos de Seia.
Durante a manhã de hoje foi também ouvida Virgínia da Conceição Pinto, a mãe de Luís Pinto, que entre lágrimas e muita emoção recordou que este foi sempre o seu “braço direito”.
“E ela era uma filha, não era de sangue, mas era de coração”, destacou, aludindo também ao facto do quão era feliz enquanto o seu filho e a sua nora estavam vivos.
À saída para a pausa para almoço, a advogada de defesa de Pedro Dias, Mónica Quintela, considerou que qualquer pessoa que ouve o depoimento de uma mãe que perde um filho fica “completamente esmagada”.
“Qualquer cidadão que ouça um pai ou uma mãe falar sobre a perda de um filho ou de uma filha tem de ficar profundamente comovido, emocionado e solidário com essa dor. Penso que isso é universal e transversal, é uma dor que nos parte a todos”, disse.
Ao início da manhã, à entrada para o Tribunal da Guarda, o advogado João Paulo Matias, representante dos pais de Liliane e Luís Pinto, tinha dito aos jornalistas que espera que este julgamento traga justiça.
“E a justiça, para eles, será uma pena exemplar para o arguido, que é a pena máxima que o nosso sistema permite, que são os 25 anos de pena efetiva. Não esperamos menos que isso”, alegou.
No seu entender, face à prova que foi recolhida, não há dúvidas de que foi Pedro Dias “quem executou” os filhos dos seus clientes.
“Isto foi uma execução sumária de uma forma cruel, injustificada e inesperada. É uma memória trágica que irá ficar com eles para o resto das suas vidas”, referiu.
Pedro Dias encontra-se a ser julgado, no Tribunal da Guarda, pela prática de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.