O presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), Rodolfo Queirós, admitiu hoje que a seca pode provocar “quebras” na produção, mas se chover nos meses de março e de abril “não haverá grandes problemas”.
“Ainda é um bocadinho prematuro estarmos a traçar cenários, porque as vinhas, neste momento, estão naquele período mais de dormência. Em alguns casos, as videiras ainda estão a ser podadas. Mas, obviamente, que se as terras não tiverem as reservas hídricas que normalmente têm, o problema há de colocar-se lá mais para a frente, para o verão”, disse hoje à agência Lusa o presidente da CVRBI, que tem sede na Guarda.
Segundo Rodolfo Queirós, se a atual situação de seca não se alterar, “pode trazer alguns problemas, nomeadamente um stresse hídrico muito forte [para as videiras], que depois implica que haja quebras” na produção de vinho.
O ano “está a vir mais quente, o que pode implicar um abrolhamento mais precoce e poderá também fazer com que o risco de geadas tardias, em finais de abril e inícios de maio, que muitas vezes ocorrem em algumas regiões, possa ser maior este ano, em função do adiantar do ciclo das videiras, em virtude de as temperaturas médias terem vindo a ser mais elevadas”, explicou.
Rodolfo Queirós aponta, no entanto, que “se chover em março e abril não haverá grandes problemas” para o setor, porque a vinha da região da Beira Interior “abrolha mais tarde do que noutras regiões mais quentes”.
“A produção de uva de qualidade é sempre dada com algum stresse hídrico. Mas, naturalmente, se não chover durante alguns dias nos próximos tempos, a situação pode tornar-se complicada para todos”, admitiu.
A CVRBI está a dialogar com os produtores seus associados e a acompanhar a situação.
“Estamos a ver como as coisas estão a evoluir e, quando for necessário, e se for necessário, cá estaremos para fazer as reivindicações que possam vir a ser tomadas para mitigar este problema, que é um problema que pode tornar-se muito complicado”, disse Rodolfo Queirós.
A CVRBI abrange as zonas vitivinícolas de Castelo Rodrigo, de Pinhel e da Cova da Beira, nos distritos de Guarda e de Castelo Branco, que correspondem a uma área de 20 municípios, onde se contabilizam cerca de cinco mil viticultores.
Na área da CVRBI, com perto de 16 mil hectares de vinhas e uma grande variedade de castas (destacando-se as brancas Síria, Arinto e Fonte Cal e as tintas Tinta Roriz, Rufete, Touriga Nacional, Trincadeira e Jaen), existem cerca de 60 produtores de vinho, sendo quatro adegas cooperativas e os restantes produtores particulares.
Mais de 90% do território estava a 15 de fevereiro em seca severa ou extrema, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que indica um novo agravamento da situação de seca meteorológica no país.
O último boletim de seca indica valores de percentagem de água no solo inferiores ao normal em todo o território, com as regiões Nordeste e Sul a atingirem valores inferiores a 20%, com “muitos locais a atingirem o ponto de emurchecimento permanente”.