Duas estelas com 3.000 anos reproduzidas no Sabugal com técnicas e utensílios milenares

Investigadores do Departamento de Arqueologia da Universidade de Friburgo (Alemanha) participaram num projeto de arqueologia experimental no Sabugal e reproduziram duas estelas com três mil anos, com recurso a técnicas e utensílios milenares.

O projeto foi desenvolvido na aldeia de Baraçal, com o apoio da Câmara Municipal do Sabugal, Guarda, no âmbito de uma parceria daquela universidade alemã com a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Uma das conclusões dos especialistas é a de que a feitura das estelas – bloco de pedra na vertical com inscrições – envolvia muitas pessoas “e isso dá uma dimensão muito interessante a estes monumentos como monumentos da comunidade”, disse à agência Lusa o arqueólogo Marcos Osório.

Segundo o responsável pelo Gabinete de Arqueologia do Município do Sabugal, a iniciativa mostrou que o fabrico das estelas “é um trabalho moroso, de dedicação e de bastante carinho das pessoas que estavam envolvidas”.

O projeto esteve “focado no estudo dos processos de fabrico das primitivas estelas da Idade do Bronze Final – um dos achados mais enigmáticos dos finais da Pré-história do Ocidente Peninsular”.

O município do Sabugal é, a nível nacional, aquele que tem maior número de “estelas de guerreiro”, de acordo com a autarquia.

No Sabugal, conhecem-se quatro exemplares destas estelas, tendo sido feita a réplica de duas delas, encontradas nas localidades de Fóios (grauvaque) e Baraçal (granito).

Na oficina, que envolveu investigadores de vários quadrantes científicos, foi feita a experimentação prática do fabrico de réplicas dos referidos monumentos, utilizando “as mesmas técnicas primitivas de gravação por percussão e incisão dos elementos simbólicos (…) repetindo gestos ancestrais, com recurso a cinzéis de bronze, martelos e escopros líticos, feitos pelos mesmos processos de fabrico artesanal arcaico”.

Marcos Osório disse que a iniciativa permitiu “compreender um pouco mais como é que estes monumentos eram feitos, quais os problemas com que eles [os autores] lidavam, que situações tinham que ultrapassar para conseguirem fazer, com os meios que eles tinham, que eram pedras e ferramentas de bronze, estes monumentos e reproduzir estas belas peças onde gravaram armas, escudos, lanças, espadas, elmos e outros objetos de prestígio como espelhos e fíbulas”.

Durante o fabrico das réplicas, os investigadores foram deparando com “situações delicadas” a que era preciso responder: “Quantas pessoas foram necessárias para fazer as estelas? Quanto tempo levou este trabalho? Como é que eles escolhiam a rocha ideal? Como é que conseguiam ser tão precisos no desenho?”.

“Tudo isso foram questões que se foram colocando ao fazer a reprodução. E, ao tentar imitar, foram-se tirando conclusões de como é que isto era feito”, contou.

O investigador alemão Ralph Araque disse que fabricar estelas é atualmente difícil, mas na Idade do Bronze o processo fazia parte da “rotina” dos artífices.

Já Giuseppe Vintrici, investigador italiano, explicou que a sua função esteve relacionada com a utilização de ferramentas pré-históricas para fazer os ornamentos nas pedras.

Na oficina também participou um especialista em arqueometalurgia (esteve a fundir e a fabricar instrumentos de bronze) e outro em ferramentas líticas (fabricou martelos e escopros de pedra).

Na opinião de Amadeu Neves, vereador da Cultura do município do Sabugal, a oficina “foi muito importante” para o concelho e para a comunidade de Baraçal.

A oficina foi instalada no pátio da escola primária e os habitantes puderam acompanhar a evolução dos trabalhos que decorreram durante três semanas.

“Este projeto foi de extrema importância, quer a nível de conhecimento científico para nós, quer a nível da divulgação de todos estes elementos históricos”, referiu a moradora Ana Lages.


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