O ano no Douro tem sido “atribulado” devido ao tempo húmido, que originou doenças nas videiras como o oídio e míldio, que atacaram algumas zonas da região demarcada e vão provocar alguma quebra na produção de vinho.
É um Douro heterogéneo. Enquanto no Douro Superior a Quinta de Ervamoira começou a vindima mais cedo do que em 2013, mais em baixo há locais onde as maturações estão atrasadas.
As previsões apontam para uma quebra na produção que pode ir dos 10 aos 15% na Região Demarcada do Douro, mas, por estes dias todas as atenções estão concentradas na meteorologia, porque o tempo ainda pode condicionar mais a vindima deste ano.
Carlos Pereira, chefe de divisão de vitivinicultura da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), afirmou que o “ano vitícola no Douro tem sido um pouco atribulado”.
As chuvas da primavera criaram condições para o aparecimento de problemas fitossanitários, a nível do oídio e míldio, doenças que, por causa da continuação do tempo húmido, se desenvolverem, obrigando à realização de “um maior número de tratamentos relativamente ao normal”.
Por exemplo, na região do Baixo Corgo foi necessário proceder à realização de quatro a cinco tratamentos. A enóloga Gabriela Canossa, da Quinta Maria Izabel, em Armamar, referiu que acabou a fase de tratamentos na vinha e que aguarda agora que a maturação se conclua, frisando que os “próximos 15 dias é que vão ditar tudo”.
A especialista salientou que em termos fitossanitários este “foi um ano muito complicado” devido à chuva e humidades, intercaladas com dias de sol muito quente. “Fizemos seis tratamentos, coisa que nunca nos tinha acontecido. Aqui a média de tratamentos é de três”, salientou.
Tratamentos que implicam, na sua opinião, “custos brutais” para os produtores.
A quebra de produção no Douro não é, no entanto, apenas motivada por razões fitossanitárias, mas também devido ao desavinho, um acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto.
Apesar disso, a chuva trouxe vantagens para as zonas mais secas do Douro, que este ano não vão sofrer com o stress hídrico o que, segundo Carlos Pereira, da DRAPN, se poderá traduzir num “melhor rendimento das uvas”.
O responsável salientou que o comportamento das videiras e das uvas está a ser “muito heterogéneo”, com “muitas diferenças entre as várias regiões” e até mesmo entre cachos nas mesmas videiras, onde se veem bagos maduros e outros ainda em fase de pintor.
Este ano o corte das uvas da casta viosinho começou cerca de 10 dias mais cedo do que no ano passado na Quinta de Ervamoira, da empresa Ramos Pinto.
“Com o calor esperado para este fim de semana eu acho que para a semana provavelmente já vamos começar com alguns tintos”, afirmou a enóloga Teresa Ameztoy. A responsável referiu que, na sua zona, onde o calor normalmente é extremo, o processo de amadurecimento foi contínuo, sem bloqueios por causa dos calores muito fortes. Este está a ser, na sua opinião, “um ano temperado”.
Também Óscar Quevedo, produtor em São João da Pesqueira, prevê começar a vindima um pouco mais cedo do que no ano passado, referindo que a “maturação das uvas está dentro do normal e até “homogéneo” nesta zona.
Este produtor calcula uma quebra de produção na ordem dos 5% comparativamente com o ano passado.
Quanto à qualidade as expectativas são muito boas na região. “Este ano haverá um bom equilíbrio entre ácidos e açucares e haverá um potencial qualitativo bom”, concluiu Carlos Pereira.