“Sinto-me muito honrada, porque ao longo dos anos este prémio tem vindo a reconhecer figuras que têm uma importância imensa no domínio da cultura quer do lado português quer do lado espanhol, simbolizando que é um premio que acaba por juntar duas culturas e fazer a ponte entre elas”, disse a galardoada aos jornalistas após receber na passada quinta-feira, na Guarda, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL), o Prémio Eduardo Lourenço 2023.
A escritora disse ainda estar “muito feliz” com o prémio por ter o nome do amigo Eduardo Lourenço. “Não podia ser melhor, ter essas duas componentes. Do imenso respeito por aquilo que foi a figura singularíssima de Eduardo Lourenço e depois a amizade que nos uniu tanto tempo”.
Lídia Jorge revelou que tinha imensos postais escritos enviados por Eduardo Lourenço e aos jornalistas admitiu a possibilidade de os entregar à BMEL onde já existe um vasto espólio do filosofo e ensaísta.
“Possivelmente irei entregá-los aqui. De certa forma esta é a casa mãe dele. Está próximo da terra onde ele nasceu e a Guarda é a cidade que ele reconhecia como a sua cidade de origem. O Eduardo enviava postais a todos os amigos. Eu serei uma das pessoas que terá postais dele”, contou.
Lídia Jorge destacou na sua intervenção durante a cerimónia de entrega do prémio que era a quarta mulher a receber este galardão. “É talvez para os homens um pouco estranho, mas nós estamos numa fase de transição”, assinalou.
A igualdade de género foi uma das características da escrita de Lídia Jorge destacadas pelo presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa.
“A escrita de Lídia Jorge é também corajosa, colocando as questões de género como tema recorrente na sua obra, no Portugal pós-ditadura predominantemente masculino”, sustentou o autarca. Sérgio Costa disse que certamente Eduardo Lourenço “ficaria feliz por a ter aqui na sua biblioteca”
Antes da cerimónia, Lídia Jorge foi surpreendida com o seu livro “O Dia dos Prodígios”, o exemplar que enviou a Eduardo Lourenço e que integra o espólio da BMEL. O livro está anotado e sublinhado pelo ensaísta. A escritora manifestou-se “impressionada” e contou ter sido aquele livro que a fez ficar amiga de Eduardo Lourenço.
Questionada pelos jornalistas sobre a atualidade, Lídia Jorge, que é também conselheira de Estado, considerou que se vive “um momento muito delicado”.
“É um momento em que as democracias estão em perigo completo, porque o que acontece é que a cultura digital e a cultura do momento é tão agressiva que não deixa possibilidade da admiração entre as pessoas”, apontou. E “quando as pessoas não têm possibilidade de manter a admiração de umas perante as outras” Lídia Jorge defende que “não há possibilidade de manter os laços que sustentam as democracias”.
O Prémio Eduardo Lourenço 2023, no montante de 7.500 euros destina-se a galardoar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas.
O galardão com o nome do ensaísta Eduardo Lourenço, mentor e diretor honorífico do CEI, que morreu em Lisboa, no dia 01 de dezembro de 2020, aos 97 anos, já distinguiu várias personalidades, de origem ibérica e ibero-americana, cujas carreiras se distinguiram em diversos campos das artes, letras e ciências.