Habitantes de Pousade interpretam peça de teatro popular religioso

Vinte pessoas com idades entre os 10 e os 86 anos mantêm a tradição do teatro popular religioso na aldeia de Pousade, na Guarda, e interpretam, na sexta-feira, o espetáculo comunitário “A Última Ceia”.

O espetáculo, que está a ser preparado desde janeiro, será apresentado ao ar livre, no anfiteatro de Pousade, a partir das 22 horasdaquele dia.

Segundo Carlos Batista, presidente do Grupo Cultural e Desportivo Pousadense, que organiza a iniciativa em colaboração com a Câmara Municipal da Guarda, a atividade envolve pessoas de várias categorias profissionais, como estudantes, agricultores, elementos da PSP e da GNR, que residem ou têm ligações familiares em Pousade.

“Vê-se aqui uma mistura de gerações”, observou, admitindo que isso dá valor ao projeto de raiz comunitária e torna-o “saudável”.

O dirigente disse à agência Lusa que, devido ao despovoamento do Interior, em cada ano que passa “é cada vez mais difícil” reunir pessoas na terra para que a tradição cultural seja mantida.

Carlos Batista defende que “as entidades oficiais competentes deveriam pensar um bocado e apoiar cada vez mais estas iniciativas que são genuínas e autênticas, que fazem parte da identidade de um povo, de uma aldeia, e mesmo de uma região”.

Os atores amadores envolvidos no projeto já estão habituados a participar na iniciativa anual e, nos últimos meses, todos os fins de semana, disponibilizam algum do seu tempo livre para os ensaios.

No final do ensaio realizado no último fim de semana, o habitante António Terras, de 86 anos, que é o elemento mais velho do grupo, disse à Lusa que entra em peças de teatro popular desde 1978.

“Fiz de Herodes, fiz de [Pôncio] Pilatos, também fiz de Imperador e fiz de Barrabás”, contou o octogenário, que desta vez interpreta o papel do apóstolo João.

António Terras diz que participa “a brincar” e agrada-lhe que a tradição continue, porque “é muito bom para a terra”.

Ulisses Martins, de 34 anos, que está ligado a Pousade pelo casamento, participa pelo segundo ano no teatro religioso e interpreta o papel de Jesus Cristo.

“Está tudo a correr bem. O grupo é unido, alegre, levamos isto de uma forma até leviana e está tudo ótimo. Estamos muito contentes. Estamos felizes pelo trabalho que estamos a conseguir e os ensaios correm de vento em popa”, disse.

Pela primeira vez, o espetáculo “A Última Ceia” tem a coordenação geral, encenação e texto do ator e encenador Daniel Rocha.

O responsável declarou à Lusa que a iniciativa está a ser “um grande desafio”, porque é a primeira vez que trabalha com teatro religioso e orienta um grupo tão heterogéneo em termos de idade e de experiência de vida.

“Sabendo eu toda a tradição que esta aldeia tem no teatro religioso, para mim é um desafio enorme, porque não posso falhar, digamos assim, na forma como pego na História e a trago para aqui”, justificou.

“A Última Ceia”, com duração total de cerca de 45 minutos, integra a programação da Semana Santa do concelho da Guarda.


Conteúdo Recomendado