Há 1,1 milhões de pessoas a receber menos de 600 euros

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O número de trabalhadores a receber menos de 600 euros por mês aumentou no terceiro trimestre face ao mesmo período do ano passado.

De acordo com o Inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), no final de setembro havia mais 43 mil trabalhadores por conta de outrem, públicos e privados, com salários mensais entre 310 e menos de 600 euros.

No total, há agora mais de 1,11 milhões de pessoas a ganhar os salários mais baixos da tabela, ou seja, quase um terço dos 3,7 milhões de trabalhadores empregados em Portugal em setembro deste ano.

Segundo o professor da Universidade do Minho e especialista em política salarial, João Carlos Cerejeira da Silva, uma das razões que explicam esta situação é o facto de os novos empregos terem remunerações mais baixas do que os que já existem com as mesmas funções. Contudo, a principal razão é outra.

“Tem muito a ver com o facto de as pessoas que estão desempregadas há mais tempo tempo e cujos subsídios estão a acabar decidirem aceitar empregos com salários muito abaixo do que aceitariam. Ou porque ainda não encontraram nada melhor ou porque a expectativa de vir a encontrar não é boa”, disse ao Dinheiro Vivo.

De acordo com o responsável, este cenário “é válido tanto para os mais velhos como para os mais novos, mas está a fazer com que Portugal comece a ter uma mão de obra mais barata mas qualificada”. Não é bom para os trabalhadores mais novos que têm mais aspirações profissionais, mas em contrapartida “pode atrair mais investimento estrangeiro, porque mão de obra barata e não qualificada há em todo o lado”, repara.

Segundo João Cerejeira da Silva, estes números explicam bem porque é que os números do emprego estão a crescer mais que os da economia. Um cenário que é até pode ser bom para as empresas exportadoras, porque têm menos gastos e por isso podem vender mais barato e mais, mas que a médio-longo prazo não é bom para a economia.

Aliás, para o ex-presidente do Instituto do Emprego, Francisco Madelino, a situação é mesmo “dramática para o ajustamento económico, porque ninguém compra um carro a ganhar 450 euros por mês”.

Mais pessoas a ganhar entre 900 e 1200

Os mesmos dados do INE revelam ainda que no terceiro trimestre deste ano havia mais 78 mil pessoas a receber entre 900 e menos de 1200 euros. No total, há agora 470 mil pessoas neste escalão que, dos oito que são analisados neste Inquérito ao Emprego, foi o que mais cresceu em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

Segundo Francisco Madelino esta situação explica-se com a reposição de salários na função pública – que “tem sempre um efeito estatístico” -, mas também com o aumento de 2% que se verificou nos últimos seis meses nos salários do privado, decorrente do crescimento da economia verificado no mesmo período. “A economia cresce pelo setor do turismo e dos serviços, que são os setores que podem pagar mais”.

Em simultâneo, há também quase mais 10 mil pessoas a receber entre 2500 e 3000 euros, o que os dois especialistas contactados pelo Dinheiro Vivo justificam como sendo o reflexo mais imediato do que se passa na economia portuguesa. “A recuperação económica começa sempre pelos salários maiores porque são os que estão ligados aos lucros das empresas”, explicou Cerejeira da Silva.

É por isso que, diz Francisco Madelino, Portugal está cada vez mais parecido com uma economia de terceiro mundo, onde há uma maior desigualdade de salários. Aliás, segundo Cerejeira da Silva, há cada vez menos distância entre o intervalo de pessoas que ganham menos de 750 euros – e que são já metade da população empregada – e as que ganham o salário médio nacional que, no terceiro trimestre deste ano, era de 818 euros, mais 10 euros mensais que no mesmo trimestre do ano passado segundo os dados do INE.

Mais pessoas empregadas

O Inquérito ao Emprego do terceiro trimestre mostra, mais uma vez, que grande parte dos empregos em Portugal são mal remunerados, mas revela ainda que há mais pessoas a receber, ou seja, há mais emprego. E, como diz João Cerejeira da Silva, “é bom que se comece a criar emprego”.

No total, há agora perto de 3,7 milhões de pessoas empregadas por conta de outrém em Portugal, no público e privado, quando há um ano havia 3,5 milhões. A maior parte delas continua a estar na área dos serviços – 2,6 milhões de pessoas -, seguindo-se a indústria com 951,2 mil pessoas e depois a agricultura, com pouco mais de 90 mil.

Contudo, enquanto na área dos serviços e da indústria há mais pessoas a trabalhar e mais pessoas com salários mais altos, na agricultura passa-se precisamente o oposto. Aliás, o salário médio mensal na área da agricultura desceu de 721 euros no terceiro trimestre do ano passado para 572 euros no terceiro trimestre deste ano.


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