“Estamos a bater no fundo”

António Machado culpa último Governo por não ter dialogado com os agricultores A Associação Distrital dos Agricultores da Guarda entregou, no dia dois de Dezembro, um documento ao governador civil intitulado “10 medidas de emergência contra a crise da agricultura e do mundo rural”. A Associação queixa-se que “a lavoura está completamente estagnada”, e acusa […]

António Machado culpa último Governo por não ter dialogado com os agricultores

A Associação Distrital dos Agricultores da Guarda entregou, no dia dois de Dezembro, um documento ao governador civil intitulado “10 medidas de emergência contra a crise da agricultura e do mundo rural”. A Associação queixa-se que “a lavoura está completamente estagnada”, e acusa o Governo anterior de “nunca ter dialogado com os agricultores”. De Santinho Pacheco levaram a convicção que as suas queixas “vão chegar a quem de direito”.

“Isto não pode continuar assim”. Foi esta uma das exclamações mais fortes que se ouviu da boca do presidente da Associação Distrital dos Agricultores da Guarda, António Machado, à saída da reunião com o governador civil, Santinho Pacheco, referindo-se ao estado da agricultura na Região.

Perante a “conjuntura económica e social” que o País atravessa, e que “atinge principalmente o mundo rural”, os agricultores fizeram questão de transmitir ao representante do Governo no distrito da Guarda as suas preocupações, através de um enunciado onde eram apresentadas “10 medidas de urgência” para combater a crise no sector.

“Entregamos ao senhor governador civil um documento, e pedimos para ele o entregar ao ministro da Agricultura e ao Governo, porque, no nosso entender, o anterior Governo foi aquele que mais fez para que se abandonasse a agricultura no distrito da Guarda”, defende António Machado.

Para o presidente da Associação dos Agricultores a situação é quase “insustentável” já que “as terras estão totalmente ao abandono, a produção do leite entrou em decadência total, porque o empresários deixaram de ir buscar o leite aos produtores”, e isso traduz-se nas “ evidentes dificuldades financeiras que pioraram a qualidade de vida dos agricultores”.

“Ainda na semana passada estive em Trancoso, a falar com alguns produtores que se queixaram que antes pagavam à Segurança Social por parte das esposas, e que agora deixaram de o fazer porque não têm condições para isso. Na realidade cerais, batatas, leite, está tudo completamente estagnado. A Associação está preocupada com estas situações porque estamos a bater no fundo”, apontou António Machado.

No documento que entregaram a Santinho Pacheco, os agricultores defendem a “intervenção do Governo para garantir o escoamento, o aumento dos benefícios fiscais para o gasóleo, o combate à especulação do preço dos combustíveis e à hegemonia das grandes superfícies, o pagamento imediato das dívidas do Estado aos agricultores, a isenção temporária do pagamento das contribuições mensais dos agricultores à Segurança Social, uma avaliação criteriosa das situações de doenças e pragas nos animais e nos vegetais, a criação de linhas de crédito, a correcção de discriminações ao nível da fiscalidade agrícola, a reformulação do PRODER e negociações sobre a PAC para garantir o aumento das quotas de produção para Portugal”.

Apesar de todas as dificuldades que atingem o sector, a Associação de Agricultores da Guarda saiu “satisfeita” da reunião com Santinho Pacheco, porque o novo governador civil do distrito da Guarda é “também ele um agricultor que conhece as dificuldades pelas quais passam os produtores da Região”.

“Ele [Santinho Pacheco] é um homem aberto, conhece bem a Região, também é agricultor, de pequena dimensão como tantos outros, e por isso temos esperança que as coisas melhorem. Eu disse-lhe, frontalmente, que o Governo anterior foi um Governo que não quis ouvir os agricultores, e que isso, quer queiramos quer não, levou a mais desertificação. Não podemos aceitar que neste momento hajam 3 milhões de pessoas a passar fome em Portugal, e que apesar de sermos um dos Países mais pequenos da União Europeia consigamos bater o recorde de terras abandonas. Isto não pode ser, porque um País sem agricultura é um País falido” lamentou.

“Ajudas à produção são urgentes” defende António Machado

Para o representante dos agricultores do distrito da Guarda, um dos problemas é que “a política dos subsídios está errada e nesse aspecto a própria Comunidade erra logo à partida”.

“A comunidade é controlada por grandes que não querem saber da pequena e média agricultura. Uma coisa é certa: a pequena agricultura, chamada agricultura familiar, é a profissão mais antiga do planeta e se ela for abandonada totalmente metade de Portugal fica sem ninguém. Isso já está a acontecer, e depois já não é preciso virem cá os políticos pedirem votos porque cá já não há ninguém”, alertou António Machado.

No entender do presidente da Associação de Agricultores, também ele agricultor, a resolução podia passar por “dar ajudas à produção, em vez de ser dar dinheiro para não se produzir, como acontece actualmente”.

“Se eu produzo dez toneladas de batatas, 20 de cereais, ou 100 de uvas, tudo o que é produção devia ser visto como produção e essas ajudas deviam ser dadas a quem produz. A maior parte do dinheiro que a Comunidade estabelece destina-se a ajudas para não se produzir nada, e isso não pode continuar num País pobre como o nosso”, protestou o presidente.

Apesar de tudo, António Machado ainda tem esperança num futuro melhor para a agricultura Portuguesa, desde que “este Governo não siga o mesmo caminho que o anterior”.

“Ainda dou o benefício da dúvida a este Ministro da Agricultura, porque gosto de ver as pessoas trabalharem primeiro para depois ter alguma opinião sobre o assunto. Ele disse há dias numa reunião que ia dar o dinheiro dos direitos dos agricultores até ao dia de hoje [quarta-feira], dia dois. Não sei, tenho que ir amanhã ver a conta bancária porque eu sou agricultor e produzo azeite, vinho, batatas, um pouco de tudo. Tenho que o ver trabalhar, para depois ter uma opinião concreta”, rematou.


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