A zona da antiga judiaria da Guarda vai receber, na sexta-feira, dia 24 de agosto, a estreia do espetáculo “Labirinto”, encenado por Graeme Pulleyn, que é uma espécie de “tecelagem de várias linhas de histórias”.
O espetáculo, criado no âmbito da rede de programação cultural Artéria, volta a ser apresentado no sábado e no domingo.
Graeme Pulleyn explicou que o espetáculo teve “vários pontos de partida”, como “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare, a história da presença da comunidade judaica durante a Idade Média e temas como a Inquisição e a expulsão dos judeus da Guarda.
“Depois, cruzámos isso com história mais recente, como a questão de Vilar Formoso e a chegada dos refugiados na II Guerra Mundial, e as memórias vivas do bairro”, acrescentou.
Segundo o encenador, durante o trabalho preparatório do espetáculo, foram feitas entrevistas a historiadores, a arqueólogos e a algumas pessoas da Guarda “que foram contando histórias, desde situações históricas até pequenas histórias e anedotas das pessoas que lá viviam há 50 ou 60 anos”.
Graeme Pulleyn avançou que o espetáculo se inicia com “A Canção das Histórias” e “com a chegada de um povo itinerante que procura o povo local, que é o público, para contar histórias”.
Ainda que quer a temática do judaísmo, quer a do catolicismo, estejam presentes no espetáculo, “é quase como se a nossa religião fosse a religião das histórias”, realçou, aludindo à “importância que há de contar histórias e de as passar de uma geração para outra”.
Em cada uma das sessões, de cerca de hora e meia, são esperadas cerca de cem pessoas.
“O espetáculo é um percurso que começa no Largo do Torreão, que tem uma vista panorâmica fantástica, e passa por outros largos e ruas que os unem”, explicou, acrescentando que haverá uma cena em cada um dos sete largos.
Pelos largos e ruas andarão “quatro atores e atrizes profissionais, dois músicos profissionais e cinco participantes amadores da comunidade que integram o espetáculo na Guarda e depois vão nas itinerâncias”, referiu.
Depois dos três dias na Guarda, em setembro o espetáculo passará por Tábua (dia 08), Viseu (dia 22) e Figueira da Foz (dia 29).
A Rede Artéria é um projeto de intervenção sociocultural, com coordenação artística do Teatrão e académica do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Cofinanciado pelo Centro 2020, o projeto criou e fez circular espetáculos em oito concelhos da região Centro (Belmonte, Coimbra, Figueira da Foz, Fundão, Guarda, Ourém, Tábua e Viseu), concebidos a partir de um espaço e história do município e que integram a comunidade e as associações e entidades locais.
Depois de já terem estreado espetáculos em Coimbra, Ourém, Fundão e Figueira da Foz, Isabel Craveiro, do Teatrão, disse que o balanço está a ser muito positivo.
“O público tem correspondido até mais daquilo que esperávamos”, afirmou, exemplificando que o espetáculo da Figueira da Foz, realizado num “sítio menos óbvio” e afastado do centro da cidade, “esteve sempre esgotado e houve listas de espera”.
Na sua opinião, este sucesso deve-se ao conceito da Rede Artéria, que é marcada por “uma grande partilha” entre os parceiros.
“Os desafios de criação em cada sítio foram discutidos anteriormente fazendo um levantamento com os agentes culturais locais. Foi a partir daí que criámos as tipologias dos projetos”, explicou.
Isabel Craveiro destacou também o lado académico do projeto, que permitirá fazer “uma reflexão estruturada sobre esta experiência”.
Segundo a responsável do Teatrão, “os académicos têm estado no terreno a acompanhar a experiência da criação, a entrevistar as pessoas, a ver como é que os municípios trabalham e acompanham os projetos, a perceber as dinâmicas dos públicos e os modos de produção de cada comunidade e do município”.