No relatório sobre Portugal em que Bruxelas dá seguimento ao mecanismo de alerta (de desequilíbrios macroeconómicos) realizado em novembro no âmbito do calendário do Semestre Europeu, os técnicos europeus referem que, apesar de a situação do mercado laboral ter melhorado desde a primavera de 2013, “o declínio no desemprego chegou a um ponto de paragem e a taxa de desemprego estabilizou desde outubro de 2014, com a redução do emprego”.
Bruxelas aponta que, durante o último ano, o desemprego caiu mais depressa do que a economia cresceu, destacando mesmo que “a queda da taxa de desemprego foi muito mais pronunciada do que o que seria de esperar tendo em conta a relação histórica entre o desemprego e o PIB [Produto Interno Bruto]”.
Para os técnicos europeus, há “fatores específicos” que podem explicar esta evolução do desemprego, nomeadamente a queda da população ativa e o efeito das reformas laborais, incluindo “os ajustamentos substanciais nos salários reais que ocorreram nos últimos anos e o avanço nas políticas ativas de emprego”.
Por isso, a Comissão Europeia alerta que, “olhando para a frente, a criação de emprego deverá abrandar e o crescimento do emprego deverá tornar-se mais alinhado com o crescimento do PIB”.
O executivo comunitário destaca que o mercado de trabalho tem de apoiar os desafios de ajustamento que persistem, apontando que “a taxa de emprego está muito abaixo do pico de 2008 e que há um risco de o desemprego estabilizar em níveis elevados”, tendo em conta o baixo crescimento económico e o aumento da discrepância entre as competências dos trabalhadores e as procuradas pelas empresas.
Considerando que há “sinais de melhorias”, Bruxelas afirma que a correspondência entre a oferta e a procura de trabalho se tornou “menos eficiente durante a crise”, uma vez que tanto o desemprego como as vagas de trabalho aumentaram.
No relatório, a Comissão Europeia recorda que o emprego total caiu cerca de 14,5% (ou cerca de 730.000 postos) entre o segundo trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2013 e que o desemprego atingiu mais 525.000 pessoas neste período, considerando que um dos desafios da recuperação económica em Portugal vai ser “absorver o amplo conjunto de pessoas desempregadas”.
Os técnicos apontam ainda que, apesar de a taxa de desemprego ter caído desde o segundo trimestre de 2013, ainda estava elevada no terceiro trimestre de 2014 (nos 13,7%), sendo que o desemprego de longa duração representava 60% do total do desemprego e que o desemprego jovem estava nos 32,2%.
A Comissão Europeia sublinha que o ajustamento do mercado de trabalho já realizado “aumentou a percentagem do emprego nos setores transacionáveis”, mas adverte que isto significa que “foram perdidos mais trabalhos no setor não transacionável”.
O relatório hoje divulgado segue-se ao relatório do mecanismo de alerta (de desequilíbrios macroeconómicos) divulgado em novembro do ano passado, no qual a Comissão identificara 16 Estados-membros que necessitavam de “análises minuciosas”.
Estas recomendações do executivo comunitário deverão ser analisadas pelos ministros das Finanças da UE (Ecofin) na reunião de março, apontando Bruxelas que em maio apresentará um novo pacote de recomendações específicas por país, já com base também nos programas nacionais de reformas dos Estados-membros entregues em abril.