Comboio regressa a Viseu

O comboio vai voltar a circular no Vale do Vouga, fazendo a ligação entre o Porto de Aveiro, Viseu e Vila Franca das Naves, onde encaixará na Linha da Beira Alta, seguindo depois para Espanha.

A decisão está tomada e se a solução encontrada ficar abaixo dos 1,4 mil milhões de euros será uma realidade. O Governo está a negociar a solução com a União Europeia (UE) e impôs silêncio às associações empresariais.

A ligação que o Governo negoceia com a UE retoma o projeto de 2009, do troço designado Lote 4A – entre Aveiro e Celorico da Beira, acordado com Espanha. Será em bitola europeia e ligará o noroeste peninsular, através da ligação da Linha do Norte a Salamanca, incluído nas redes transeuropeias. O atravessamento da fronteira a norte de Vilar Formoso possibilita a ligação em pouco mais de 130 km, o que encaixa nos orçamentos previsíveis.

O troço terá uma extensão de 110 km, com passagem por Viseu. O custo por quilómetro aponta para 10 milhões de euros e pressupõe 60 quilómetros de via única. Quanto ao financiamento, o valor final está ainda por definir. Um estudo do Grupo de Trabalho Centro e Norte, que reúne as associações empresariais de Portugal, Minho e Centro, aponta para um investimento de 1,9 mil milhões de euros, um valor “incomportável porque equivale ao dinheiro que o país dispõe para o investimento total em ferrovia”, sustenta um responsável político ouvido pelo semanário SOL.

Quebrar o isolamento

Todavia, lembra que o estudo foi feito com base numa via dupla, quando se prevê agora uma via única, capaz de garantir velocidades até 250 km em bitola europeia, a que acresce um ramal de ligação a Viseu, de 5 km, e outro entre Vila Franca das Naves e a Plataforma Logística da Guarda. Essa solução fará Portugal “honrar os compromissos e dividir as verbas disponíveis entre a ligação Aveiro-Salamanca e Sines-Badajoz”, acrescenta.

Os responsáveis políticos ouvidos pelo SOL consideram que a nova ligação é uma exigência para que o noroeste peninsular não fique isolado. Essa é a convicção do presidente da Câmara de Viseu, que num encontro com jornalistas prometeu que a cidade “irá voltar a dispor de ferrovia”. Apesar das insistências, Almeida Henriques pouco mais adianta, mas assume que “será uma evidência a curto prazo”. Também o autarca da Guarda assume a “vontade política para a construção, com financiamento europeu”. Álvaro Amaro pede “um compromisso entre os partidos do arco do Governo para que o país não marque passo”, numa solução que permitirá “servir os portos de Leixões, Aveiro e Figueira da Foz e quebrar o isolamento do país em ferrovia”.

Esta ligação tem sido reclamada pelos franceses da PSA, que têm duas fábricas de automóveis Peugeot Citröen, em Vigo e Mangualde. Carlos Tavares, o presidente do grupo, tem insistido que a ligação Vigo-Mangualde permitiria reduzir os custos de operação em 20%, ajudando à manutenção da fábrica em Mangualde. Também a mina de ferro de Torre de Moncorvo tem um estudo que aponta para a viabilidade apenas com a exportação do minério, a partir de Vila Franca das Naves e dali para o Porto de Aveiro.

Nas associações empresariais de Portugal e do Minho ninguém assume mas, sob anonimato, os dirigentes reconhecem a existência de negociações. O primeiro sinal de que o anúncio da nova construção está por um fio foi sentido em Cacia, nos arredores de Aveiro, uma zona industrial onde a procura por terrenos disparou.


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