Na zona que mais tem utilizado o burel ao longo dos anos, a tradição mantém-se por intermédio dos dois artesãos que continuam a fazer peças típicas e a apostar em novas criações.
António Garcia, de 69 anos, que exerce a profissão de alfaiate desde os 13 anos, trabalha diariamente o burel na sua alfaiataria, na aldeia de Folhadosa, no concelho de Seia.
O artesão faz casacos típicos e capas dos pastores, capas alentejanas e de senhora, que depois vende em feiras de artesanato.
O alfaiate contou à agência Lusa que as capas e os casacos dos pastores têm maior procura, mas as senhoras também “compram muito as capas” de burel, que é um tecido “quente” e “bom” para o outono e para o inverno.
António Garcia dedicou-se aos artigos de burel há cerca de dez anos, após o declínio da sua arte devido à concorrência das fábricas.
“A parte de alfaiataria acabou, devido às confeções que fazem tudo, que têm lá de tudo um pouco e, às tantas, eu dediquei-me a fazer isto. Ninguém me ensinou, mas como eu já tinha as luzes da parte da alfaiataria continuei o sistema”, justificou.
O alfaiate, que tem feito muitas peças de vestuário em burel para os ranchos folclóricos da região da Serra da Estrela, orgulha-se de já ter vendido capas e trajes de pastores para o Luxemburgo.
O homem que confecionou “mais de 100” casacos típicos de pastores garante que enquanto houver burel e puder trabalhar, não desiste da arte: “Sempre gostei de trabalhar nestas coisas e eu quero continuar”.
A costureira e modista Alice Pinto, de 48 anos, com uma oficina de costura na cidade de Seia, apenas confeciona as peças em burel por encomenda.
A mulher, que já fez capas para pastores, para confrarias da região e para ranchos folclóricos, também fabrica bolsas e três modelos de capas para senhora, com utilização das novas cores do tecido de burel.
“Vou pesquisando, vou vendo alguns modelos antigos e depois aperfeiçoo-os ao estilo moderno e ao que podemos vestir no dia-a-dia”, disse a artesã, lembrando que o burel tradicional é castanho, mas as fábricas já colocam no mercado outras cores (preto, vermelho, cinzento, azul, verde, etc.).
Segundo Alice Pinto, o tecido tradicional de burel deixou de estar associado unicamente aos pastores e “agora é moda, devido às inúmeras cores” e também pela resistência (como a lã é prensada fica impermeável à chuva) e aspeto final.
A costureira, que se mostra orgulhosa por manter a confeção de peças de vestuário e acessórios de moda em burel, gostava de ter “mais encomendas”.
“Sinto que faço parte de um projeto que não morreu e vamos ver se ele continua ainda vivo e com mais diversificação”, desejou.
Os dois artesãos de Seia compram o burel que utilizam no dia-a-dia numa fábrica de lanifícios da Senhora do Desterro, naquele concelho da Serra da Estrela.