Associação diz que há mais de três mil agricultores que não fizeram candidatura

Cerca de uma centena de agricultores e produtores florestais de todo o distrito concentraram-se hoje junto à delegação da DRAP do Centro, em Coimbra.

Mais de três mil agricultores afetados pelos incêndios de outubro de 2017 não realizaram candidatura aos apoios do Governo, disse hoje a Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (ADACO), que organizou um protesto na cidade.
Cerca de uma centena de agricultores e produtores florestais de todo o distrito concentraram-se hoje junto à delegação da Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Centro, em Coimbra, exigindo mais apoios e a reabertura das candidaturas.

“Há mais de três mil pessoas que não fizeram candidaturas e o senhor ministro [da Agricultura, Capoulas Santos] está a mostrar-se irredutível em reabrir as candidaturas”, denunciou o dirigente da ADACO Isménio Oliveira, referindo que os dados reportam a um levantamento feito pela associação no distrito de Coimbra, que engloba também alguns agricultores de Seia, distrito da Guarda, e do distrito de Viseu.

De acordo com Isménio Oliveira, “provavelmente haverá mais” agricultores afetados pelos incêndios de outubro de 2017 que não fizeram a candidatura, face ao prazo “curto” em que o aviso esteve aberto.

“Entendemos que o ministro tem de perder esta teimosia”, frisou o dirigente, sublinhando que houve agricultores que estiveram no hospital, face a queimaduras, e que só tiveram alta “em janeiro ou fevereiro”.

“Com que cara é que o ministro vai dizer a essas pessoas que não podem receber apoio?”, questionou.

Segundo Isménio Oliveira, há dinheiro para solucionar o problema, falta é “vontade do ministro”, que “está a fazer finca-pé”.
Para além dos apoios aos agricultores afetados pelos incêndios, o protesto também abordou a limpeza das floresta, com os produtores a criticarem a falta de tempo e de dinheiro, seja para pagar os trabalhos de limpeza, seja para pagar coimas.

Isménio Oliveira afirmou que a ADACO vai agora expor a situação à comissão parlamentar da Agricultura e Mar.

No protesto em Coimbra, surgiram cartazes onde se podia ler “Agricultura nada”, “Somos vítimas não somos culpados” e “Cinco meses depois nada”, para além de algumas alfaias agrícolas calcinadas que foram deixadas junto à delegação da DRAP do Centro.

Isabel Pimenta, de 50 anos, a viver em Tábua, diz que recebeu apenas cerca de mil euros, quando perdeu “oliveiras, lenha e um barracão das ovelhas”.

Na concentração, a história de agricultores que receberam muito abaixo daquilo que esperavam repetiu-se.

 

Manuel Ângelo Pereira, de Tábua, diz que teve um prejuízo de mais de 10 mil euros, mas recebeu 1.800.
“O apoio é praticamente nada. Vai ser muito difícil continuar. Acho que nem vale a pena continuar a lutar por uma coisa que não nos vai dar nada nos próximos anos”, afirmou.

Valdemar Cortês, de Oliveira do Hospital, recebeu cerca de quatro mil euros, depois de ter visto arder olivais, pomares, laranjais, galinhas e frangos.

O dinheiro que recebeu só deu para “construir os barracões dos animais”, contou à agência Lusa o reformado de 75 anos.
“Sentimo-nos abandonados pelo Governo. Do pouco que tínhamos, ficámos sem nada”, frisa Elisa Garcia, de 78 anos, que carregava na cabeça uns paus de madeira queimada.


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