Ninguém gosta de dietas.

O português espera sempre por um motivo de força maior que o obrigue a tal, sendo o mais comum, a saúde. Quando a análise revela um colesterol elevado, uma diabetes, um fígado cansado… Lá se toma nota do regime alimentar prescrito pelo nutricionista, que de forma gradual leva o doente à pirâmide alimentar até atingir o equilíbrio e resultados saudáveis. E qualquer nutricionista diz em voz alta que uma dieta “ a sério” obedece a princípios que devem ser observados, tais como: a adequação (tem de ser proporcional às diversas condições e actividades); a qualidade (deve pautar-se por nutrientes essenciais e não meras calorias vazias); a quantidade (deve ser em número suficiente para dar respostas a todas as necessidades do organismo); a harmonia (o acerto entre qualidade e quantidade de forma a atingir um perfeito equilíbrio) e a variedade (fornecer uma ampla selecção de alimentos, apresentando diferentes nutrientes). Este tipo de dieta leva tempo a apresentar resultados, mas é segura, eficaz e os seus efeitos perduram no tempo. Educamos a boca a comer.

Por outro lado, há sempre uns tantos, mais impacientes, que querem resultados à vista. E depressa! Beba-se sumo de limão em jejum, coma-se cinco maçãs por dia, não se belisque o pão. Passe-se fome e sede. Não importa porque os resultados aparecem: emagrecimento à vista em três semanas e ostenta-se com orgulho o número da cintura.
O que tem isto a ver com a Administração Pública?

Ao nível da redução da despesa, tem-se apontado que um dos indicadores de excesso de peso (gordura a mais) é o elevado número de trabalhadores. Antes da Troika atravessar fronteira, já Governos anteriores haviam ditado regras de emagrecimento nesta matéria, designadamente: através da mobilidade especial (voluntária ou não), de onde resultou um número de excedentários (tu e tu estão a mais!) no Ministério da Agricultura. Por pudor ou timidez, tal medida não foi até hoje adaptada à administração local.
O SIADAP, mais concretamente o sistema de avaliação de desempenho, para além de arquivar as progressões automáticas de três em três anos, veio permitir que um trabalhador com desempenho inadequado seja colocado na dita mobilidade especial. Mas também veio diferenciar o mérito e estimular os trabalhadores através de sistemas de recompensa que actualmente, pelo OE 2011, estão congelados.
A corrida à aposentação, mesmo com fortes penalizações, lá permitiu ligeiras saídas. Já os trabalhadores que requeiram licenças sem remuneração, quando não fundamentadas em interesse público, arriscam-se a perder o posto de trabalho.
Emagrecemos? Não.

O recrutamento disparou, mesmo com constrangimentos orçamentais. E, em determinados sectores, podemos afirmar que há efectivamente falta de pessoal para assegurar determinados trabalhos. Continuamos a ter muitos trabalhadores (em excesso) em determinadas subunidades, e a faltar noutras. Continuamos a ter muitos trabalhadores num determinado concelho, e a faltar noutros. Acusamos diversas carências ao nível de técnicos especializados, capazes e com respostas prontas a bem do serviço público, e acusamos desinteresse pela formação dos trabalhadores. Já a dieta Pós-Troika, de que se fala, tem em vista a redução de chefias e trabalhadores, sem olhar a decretos.
O diagnóstico é necessário. A administração pública durante anos escondeu um distúrbio alimentar, e por isso, é essencial que a recuperação, a arrumação da organização se faça de forma adequada, proporcional e em harmonia.
Não queiram dietas loucas de verão. Nem cinturas de vespa em meia dúzia de meses.

Da mesma forma que o nutricionista educa a boca do doente a saber o que comer, possa o legislador lá dos corredores da administração central criar mecanismos legais que permita aos autarcas gerir e maximizar os recursos humanos de forma sustentável. Não esqueçamos que a câmara municipal em muitos concelhos é o principal empregador. Por detrás dos quilos a mais estão pessoas. E admitindo que algumas terão de ser sacrificadas para se atingir o peso certo, estará a sociedade preparada para acolher estes “obesos”? Porque se deixam de pesar na balança da câmara municipal, passam a ser peso certo na balança da segurança social.
E feitas as contas os resultados são meros falsos magros…