Regadio do Sabugal chega com três anos de atraso

Obra de 1,8 milhões de euros vai beneficiar 300 agricultores, sobretudo de pequena dimensão Oito anos volvidos sobre a inauguração da barragem, a Rede de Rega do Bloco do Sabugal começa a ganhar forma. A obra foi consignada no último Verão e o Ministério da Agricultura prevê que os ensaios de funcionamento do sistema sejam […]

Obra de 1,8 milhões de euros vai beneficiar 300 agricultores, sobretudo de pequena dimensão

Oito anos volvidos sobre a inauguração da barragem, a Rede de Rega do Bloco do Sabugal começa a ganhar forma. A obra foi consignada no último Verão e o Ministério da Agricultura prevê que os ensaios de funcionamento do sistema sejam efectuados na próxima campanha de rega. Do lado dos agricultores não há consenso. A CoopCôa contesta o elevado investimento, pois «já vem tarde». A AcriSabugal é mais optimista e diz que «tarde nunca é».
 
Em 2001, António Guterres, então primeiro-ministro, anunciou 2006 como prazo para «ter todos os blocos em funcionamento», mas a promessa ainda não se concretizou. O do Sabugal integra-se no Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira e «engloba a construção de uma rede de rega abastecida directamente a partir da barragem», explicou fonte oficial do ministério. A tutela prevê que a estrutura, cujo projecto foi elaborado pela própria Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), venha a beneficiar cerca de 300 agricultores – pequenos, na sua maioria – numa área de 170 hectares de propriedades fragmentadas, situadas a Norte da barragem. «Claro que se tivesse aparecido há cinco ou seis anos seria melhor, mas tudo o que for de regadio vem ajudar», sustenta José Freire. O presidente da AcriSabugal (Associação de Criadores de Ruminantes) mostra-se, por isso, satisfeito pelos agricultores que vierem a beneficiar da obra.
 
Os terrenos abrangidos situam-se nas freguesias do Sabugal e das Quintas de S. Bartolomeu. Uma parte encontra-se ao longo do rio Côa, até à ponte Sul da cidade (a mais próxima de Sortelha); a outra fatia, significativamente maior, localiza-se nas zonas da Ínsua, Travessas e Paiã. Entre as duas pontes da sede do município ficará a «ligação entre as zonas a regar a montante e jusante», refere fonte do ministério, mas a tutela esclarece que o bloco «não interferirá directamente com a vida urbana». A área de intervenção é um dos aspectos contestados pela Cooperativa Agrícola do Concelho do Sabugal (CoopCôa). Manuel Rasteiro, da direcção, questiona as razões para intervir «junto ao rio, onde já antes se regava. Deviam bombear a água para onde não a há, para pastagens na Colónia Agrícola de Martim Rei, o Soito ou Quadrazais, por exemplo», defende.
 
A empreitada está orçada em cerca de 1,8 milhões de euros, é financiada pelo Quadro Comunitário de Apoio (QCA III), através do programa AGRO, e corresponde a 11 quilómetros de condutas, equipadas com hidrantes e bocas de rega. «As obras são sempre boas, mas é um investimento muito grande para o lucro que vai dar», considera Manuel Rasteiro. Por sua vez, José Freire defende que os regadios «são sempre rentabilizados, em qualquer lado, mesmo que demore muitos anos. Este é por gravidade e os benefícios podem ser ainda maiores». Segundo o presidente da AcriSabugal, «muitas vezes, não se sabe usar aquilo que está à disposição». O Ministério da Agricultura admite que «a beneficiação daquela área é uma aspiração dos agricultores desde a construção da barragem», mas a verdade é que as reivindicações remontam a 1966, quando foi constituído o Grupo de Trabalho da Cova da Beira. Com a agricultura «de rastos», Manuel Rasteiro é lacónico: «Nestes três anos que vão de atraso, não se perdeu nada. É uma agricultura para casa, uns “quintais”, porque quem produz em quantidade, depois não consegue vender», lamenta.

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