Há agregados sem qualquer rendimento mensal na Guarda, mas as instituições falam em situações pontuais e de transição.
São cada vez mais as pessoas a bater à porta das instituições de solidariedade da Guarda, sem rendimentos ou com pensões de valor reduzido. O fim do subsídio de desemprego e os despedimentos, entre outros motivos, deixam estes guardenses no “limbo” enquanto aguardam uma resposta ao pedido de Rendimento Social de Inserção (RSI). No meio do desespero, a solução mais imediata é recorrer à ajuda alheia. Das instituições contactas pelo jornal O INTERIOR, o caso mais preocupante é o da Cáritas Guarda, que apoia atualmente 17 agregados familiares (ou pessoas individuais) sem qualquer rendimento mensal. Segundo dados avançados pela instituição relativamente aos apoios sociais, 43 dos seus utentes recebem apenas o RSI, seis auferem pensões inferiores a 200 euros e 21 recebem pensões entre os 200 e 300 euros. Dos casos sinalizados, 20 pessoas vivem sozinhas sem manter contacto frequente com os familiares, sendo que há ainda três situações de regresso a casa dos pais por incapacidade económica. Entre os restantes apoios, destaque para 22 carenciados empregados e 13 a usufruir do subsídio de desemprego. «Todos os utentes têm despesas fixas mensais (renda, água, luz e gás), verificando-se a existência de alguns créditos pessoais e de automóveis», adianta Cátia Lopes, assistente social da Cáritas. Quanto ao “rastreio” em curso para evitar casos duplicados nas instituições da cidade, o balanço é positivo: «Há cerca de um ano que temos uma reunião mensal com outras instituições para saber se há casos coincidentes. Evitarmos isso faz com que se possa direcionar esse apoio para quem não tem qualquer ajuda», considera a responsável. No início desta seleção, a Cáritas deparou-se com muitas situações em que um só agregado beneficiava de múltiplos apoios, mas atualmente isso não acontece: «Já sabem da nossa reunião e têm isso em atenção», refere Cátia Lopes. A delegação local da Cruz Vermelha também conta com alguns casos mas apresenta-os como situações de transição, ainda que não adiante números. «São dificuldades pontuais de pessoas que viram a sua condição alterada e aguardam resposta ao pedido de RSI», justifica Ana Lúcia, responsável pela ação social. Em janeiro, esta delegação entregou roupa a 38 agregados carenciados e bens alimentares a 51, a que se junta a ajuda alimentar mensal que inclui atualmente 16 famílias. Os programas em vigor, e nos quais os cidadãos podem colaborar, são o Banco de Roupa e Banco Alimentar, contando-se ainda o PCAAC (Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados), do qual a delegação local é mediadora. Também o Grupo Desportivo e Recreativo das Lameirinhas (GDRL), no âmbito das cantinas sociais, conta sete residentes sem qualquer rendimento, atendendo aos dados partilhados com a Segurança Social.
Procura de cantinas sociais cresce
Segundo a coletividade, a generalidade dos carenciados recebe RSI ou subsídio de desemprego de valores muito baixos. As refeições servidas por esta IPSS – que eram 60 em dezembro – ascenderam já às 75, o que corresponde a 34 agregados. Já o Centro de Formação Assistência e Desenvolvimento (CFAD) garante uma refeição diária a três pessoas sem rendimentos, situação que deve ser alterada em breve: «São residentes que já fizeram pedido para receber RSI e estão à espera de resposta. Aliás, a maioria dos nossos utentes aufere essa prestação», indica Normélia Bartolo, funcionária do CFAD. Os almoços servidos pela instituição continuam a ser 65, mas «somos muito procurados diariamente», salienta a responsável, que em dezembro tinha assumido a dificuldade material e humana de apoiar mais pessoas. Por sua vez, a cantina social da Casa da Criança, que serve agora 40 jantares, não serve ninguém sem rendimentos: «A maioria recebe RSI e temos alguns casos de reformados», afirma a diretora Dina Varandas. De referir também a Casa de Santa Zita, onde a mensalidade dos mais pequenos (creche, pré-escolar e ATL) está dependente do rendimento do agregado familiar. No total de 200 crianças, há 46 que não pagam nada, não havendo informação de quantas dessas famílias não têm qualquer rendimento. Já a Fundação S. João de Deus colabora diretamente com seis instituições da cidade ao nível de «vestuário, encaminhamento de doações e uma situação pontual de alimentação», refere Patrícia Loureiro, responsável pela delegação local. «Tivemos um contacto direto com as pessoas através da iniciativa Manto Branco, na qual ajudámos 320 carenciados», acrescenta.