Antigo ponto de encontro de amigos e namorados idanhenses, o muro, que se estende ao longo da Rua Luís de Camões, foi curiosamente eternizado por outro autor português, José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, que ali encontrou um cupido esculpido na pedra ao visitar a vila de Idanha-a-Nova.
A passagem por Idanha aconteceu no âmbito do livro “Viagem a Portugal”, uma coleção de memórias, narrativas e crónicas da autoria de José Saramago, publicada em 1981. Foi escrita ao longo da sua viagem por todas as regiões de Portugal continental, entre outubro de 1979 e julho de 1980, a convite do Círculo de Leitores.
Durante este singelo tributo ao “Muro dos Apaixonados”, Armindo Jacinto sublinhou que “é um muro que está ligado a vivências dos jovens idanhenses de outrora, que o acaso ditou que ficasse eternizado na obra de Saramago, por ter captado a sua atenção e inspirado o seu olhar ao visitar Idanha-a-Nova”.
O presidente da Câmara de Idanha-a-Nova deu os parabéns a “quem propôs assinalar a referência ao ‘Muro do Apaixonados’ na obra do Nobel português, a quem investigou os factos e a quem levou a efeito este ato”.
Na sua obra de crónicas de viagem, escreve José Saramago: “(…) Já o viajante ia saindo, salta-lhe ao caminho um muro, não teve remédio senão parar. É um murito baixo que duas vezes diz quem é, primeiro com um coração que feridora seta atravessa, depois, mais explicitamente, declarando por inteiro: «Muro dos Apaixonados». Estão os namorados de Idanha-a-Nova bem servidos: quando andarem sem sorte nem norte, basta que a este muro encaminhem os passos: nunca faltam as almas gémeas se nos roteiros sentimentais estiveram assinalados os locais de encontro. (…)”.
A proposta desta iniciativa partiu da idanhense Maria da Conceição Teixeira, professora em Almada, que desafiou as entidades locais a assinalar a passagem de Saramago por Idanha-a-Nova.
“Quando li um artigo do Dr. António Catana sobre o ‘Muro dos Apaixonados’ recordei-me das minhas memórias da adolescência, em que vinha com os meus irmãos de férias para Idanha e juntava-me com os meus amigos ao longo deste muro. Havia quem namorasse, quem conversasse, quem tocasse viola… era um ambiente fantástico”, lembra Maria da Conceição Teixeira.
A professora sugeriu, então, assinalar-se o destaque dado por Saramago a “um pormenor como é este muro e a uma discreta inscrição, que é o tal coração, o tal cupido, a que ele concede dimensão ao valorizar com o seu olhar”.
Na colocação da placa informativa, que contextualiza a referência ao muro na obra literária do Prémio Nobel, estiveram envolvidas a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e a União de Freguesias de Idanha-a-Nova e Alcafozes, tendo sido ainda fundamental o trabalho de investigação do historiador António Catana e de Alexandre Gaspar, entre outras individualidades.