Produtores de azeitona da região da Guarda recorrem à maquinaria por falta de mão de obra

O olivicultor explicou que há cinco anos optou por vender azeitona para conserva por “não ter escoamento” para o “azeite de categoria” que produzia no olival que possui na localidade de Ratoeira.

Dois produtores de azeite da região da Guarda estão a recorrer à maquinaria para apanharem a azeitona das oliveiras, devido a dificuldades no recrutamento de mão de obra e por ser economicamente mais viável.

Manuel Gaspar da Cunha, produtor de azeitona para conserva e para fabrico de azeite, que possui um olival com 22 hectares no concelho de Celorico da Beira, disse à agência Lusa que tem dificuldades em conseguir mão de obra por escassear oferta e por algumas das pessoas disponíveis estarem a receber subsídio de desemprego “e não quererem trabalhar”.

O empresário agrícola começou a apanhar a azeitona para conserva há duas semanas e a destinada a azeite será recolhida “daqui por um mês”.

Neste momento emprega sete trabalhadores, que recrutou na zona, “com muita dificuldade”, e que não têm a assiduidade pretendida.

Para colmatar a falta de mão de obra, Manuel Gaspar da Cunha comprou máquinas “já há uns anos” e garante que no distrito da Guarda “não há ninguém mais mecanizado” do que ele.

“Se não fossem as máquinas, nenhum deles [dos trabalhadores] produzia para o ordenado que lhe pago. Tive que recorrer [às máquinas]. Tenho um parque de máquinas que não compensa a agricultura que eu tenho, mas ou abandono ou tenho as máquinas. Tenho quatro tratores e cada um faz o seu serviço, porque se estou à espera de mão de obra, além de não a ter, economicamente não é viável”, justificou.

O olivicultor explicou que há cinco anos optou por vender azeitona para conserva por “não ter escoamento” para o “azeite de categoria” que produzia no olival que possui na localidade de Ratoeira.

Atualmente, só fabrica azeite “para alguns clientes habituais, que são poucos, porque quem consumia eram as pessoas idosas e umas foram para os lares e outras faleceram”, e perdeu muitos compradores.

A pandemia também contribuiu para diminuir o negócio: “Tinha clientes muito dedicados em Viseu, em Coimbra, em vários lados, de restaurantes e de hotéis, e esses estiveram fechados com a pandemia”.

Manuel Gaspar da Cunha, com 82 anos, vaticina que a produção de azeitona deste ano é melhor do que a do ano passado, prevendo produzir um total de 45 toneladas de fruto e utilizar cerca de 12 toneladas para fabricar 1.500 litros de azeite.

No concelho de Pinhel, o produtor Carlos Alberto Videira, que possui cerca de 12 hectares de olival, prevê que este ano haja “um decréscimo de dez por cento” na produção relativamente ao ano anterior.

O olivicultor, que também possui um lagar para produção própria, prevê iniciar a campanha deste ano no dia 15.

Na campanha de 2020/2021, devido à pandemia de covid-19 e à escassez de mão de obra, fez o varejamento mecanizado e, este ano, vai manter a aposta.

“Estou a ponderar também fazer isso, no sentido de fazer uma apanha mais rápida. Aqui [em Pinhel], há alguma dificuldade em contratar pessoas para fazerem este trabalho e reconhecemos que não há gente. E o valor que se paga a esses assalariados, para nós, olivicultores, torna-se caro”, adiantou à Lusa.

Carlos Alberto Videira produz azeite certificado em modo de produção biológica e o seu produto já foi galardoado com várias medalhas no país e no estrangeiro.

Para além do mercado nacional, também vende azeite para o estrangeiro, sobretudo para países como Espanha, França e Suíça.

Com a pandemia, o produtor nota que “houve uma redução nas vendas, porque as pessoas saíam menos e faziam mais compras ‘online’ e, como os transportes são caros para este tipo de distribuição mais personalizada ao cliente, houve uma quebra na procura”.

“No ano de 2020 foi mais complicado e vendeu-se alguma coisa, mas em 2021 esteve razoavelmente bem”, rematou.


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