A partir de plantas de espécies invasoras, como a acácia, ou de restos da limpeza das matas, a tecnologia permite seguir um processo ecológico e obter biocarvão, a ser usado em churrasqueiras, por exemplo, ou transformado num produto chamado “ecochar”, utilizado para reestruturar solos agrícolas.
“Este carvão surge da necessidade de ter um produto de alto poder calorífico e, ao mesmo tempo, não poluente, de fácil combustão, ao contrário do carvão [atualmente] comercializado nas grandes superfícies e em outros estabelecimentos”, avançou à agência Lusa Amadeu Borges, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O biocarvão “é obtido através de um processo baseado na pirólise tradicional [decomposição que ocorre pela ação de altas temperaturas], e com as alterações introduzidas resulta num produto com qualquer coisa como 95% de carbono fixo, o que traz vantagens”, como o facto de ser leve e de retirar os elementos químicos que possam contribuir para emissões “menos amigas do ambiente”, explicou o professor do Departamento de Engenharia da UTAD.
O projeto do biocarvão foi desenvolvido pela empresa Ibero Massa Florestal, que tem parcerias com a UTAD e a Universidade de Aveiro, e financiado pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).
“Foram desenvolvidos fornos que garantiam não haver grandes emissões e tivemos uma surpresa agradável pois o nosso biocarvão, a nível físico e químico, era completamente diferente do restante que há no mercado”, descreveu à Lusa o diretor de Produção da Ibero Massa Florestal, João Tiago Santos.
O responsável salientou que o processo produtivo “é ecológico desde o início, com a matéria-prima”, pois estão a ser usadas “essencialmente espécies invasoras, como a acácia mimosa e acácia austrália, ou podas provenientes da limpeza de matas, e a ideia inicial até partia da valorização de resíduos agro-florestais”.
O produto “tem grande teor em carbono físico e muito poucos voláteis e, quando é ateado, liberta calor, mas não liberta chama”, resumiu João Tiago Santos.
“A partir do momento em que ‘se liga’ fica com calor uniforme, não tem lume, não faz faíscas, não faz fumo, e tem um poder calorífico bastante superior ao ‘normal’ carvão feito por métodos tradicionais”, acrescentou.
Em Portugal, há escassez de carvão e grande parte do que é consumido é importado, por isso, os responsáveis da empresa esperam que o biocarvão “seja totalmente consumido no mercado interno”.
Com os restos poderão ser produzidos “briquettes” de carvão, cilindros de carvão moído e compactado e “ecochar” para exportação.
Este ano, a empresa pretende faturar dois milhões de euros. Dos seus planos consta o aumento da capacidade de produção em cinco vezes para conseguir 10% do mercado nacional de carvão, estimado em 50 milhões de euros.
“Deste carvão, somos com certeza os únicos na Península Ibérica e haverá mais quatro ou cinco no resto do mundo que produzem carvão com a qualidade do nosso”, referiu João Tiago Santos, salientando que está a decorrer o registo da patente.
“Na nossa fábrica, o objetivo é estar a trabalhar de camisa branca”, realça o diretor de Produção da empresa, para explicar o contraste com o ambiente cheio de fuligem a que se assiste nas carvoarias tradicionais.