Ao longo dos últimos meses tenho participado ativamente em eventos formativos (conferências, seminários e workshops) subordinados ao interessante tema do empreendedorismo social.

A importância que tem sido associada ao empreendedorismo nos tempos recentes é, quanto a mim, extremamente positiva. Porém, a realidade é que ouvimos de tudo quando nos queremos referir ao conceito!

Uma das mensagens passadas frequentemente é que o empreendedorismo está num lado da margem do rio (lucro) e o empreendedorismo social (solidariedade) está na margem oposta. Partilho da opinião de que esta perspetiva é totalmente errada e que deve ser esclarecida.

Empresa social? Já ouviu eventualmente falar…

O conceito “empresa” continua lá, independentemente de se seguir o “social”. É certo que o empreendedorismo social pressupõe inovação, transformação e impacto sociais. Não obstante esta ideia, podemos questionar se é por meio de uma empresa (modelo empresarial) que atingimos esses fins.

Na minha opinião a resposta é sim. É por meio de modelos empresariais que criamos empresas sociais sustentáveis. As Organizações Não-Governamentais (ONG´s) tendem a perder a sua força, deixando de alcançar os seus propósitos. Isto porque não assentam num modelo de negócio sustentável, dependendo muitas vezes de financiamentos que certamente deixarão de existir.

É sabido que atualmente as empresas integram a responsabilidade social empresarial. Como diria o CEO do Doutores da Alegria, no Brasil, não deveria existir a responsabilidade social nas empresas, mas sim as empresas nascerem socialmente responsáveis.

Quando pensamos em lucro pensamos em questões estritamente financeiras. No entanto o lucro pode ser o aumento do emprego numa dada localidade, a melhoria das condições de vida de uma população ou até a erradicação de uma dada problemática social.

Mas quem é o empreendedor social?

De modo geral, o empreendedor/a social empenha o seu trabalho em prol de causas sociais, recorrendo aos seus conhecimentos e competências para, de modo empreendedor e inovador, colmatar as necessidades deixadas por um sistema cada vez menos protetor sob o ponto de vista social.

É certo que, em termos relativos na União Europeia, somos um país com níveis de educação menos positivos. Mas é bem verdade que o país já possui pessoas qualificadas, quer seja na área social, quer seja na área da gestão, que podem liderar projetos socialmente inovadores.

Todavia, assombra-nos a questão: e financiamento?

Não sendo abundante, ele existe. A prova é o Banco de Inovação Social (BIS), da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, a Fundação EDP, a Fundação+ e a Ashoka Portugal, que apoiam projetos no âmbito do empreendedorismo social.

É fundamental que o empreendedorismo social não seja politizado e seja exercido de modo desinteressado. Torna-se imperativo que as pessoas tenham competências na área do empreendedorismo (social) para que possam redobrar as atenções, apresentando soluções para os novos desafios que vão surgir, numa sociedade cada vez mais dinâmica e imprevisível e onde o estado social é menos capaz de responder às necessidades que se apresentam.

É tudo uma questão de mentalidade, mas a verdade é que é bem mais fácil criar uma empresa tendo como objetivo resolver uma problemática social do que propriamente para ganhar muito dinheiro!