Viniportugal desafia setor português do vinho a apostar nos espumantes

A Viniportugal vai desafiar hoje o setor português do vinho a apostar na produção de espumantes, cujas exportações são atualmente “residuais”, mas que tem revelado um elevado potencial de crescimento internacional, disse à Lusa o presidente daquela associação.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da associação interprofissional para promoção dos vinhos portugueses assegurou que há “exemplos recentes que demonstram que o champanhe [vinho branco espumante produzido na região francesa de Champagne] é destronável e que o mercado pode abrir-se a espumantes de outras origens, nomeadamente a portuguesa”, pelo que passar à margem desta categoria é “uma perda de oportunidade”.

Falando no âmbito do Fórum Vinhos de Portugal – que hoje reúne na Curia os profissionais do setor para discutir o mercado internacional de vinho – Jorge Monteiro adiantou que será ali apresentado um estudo sobre os espumantes em Portugal, feito em parceria com o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) com base na “perceção de que é uma categoria subaproveitada pelos portugueses”.

“Queremos sensibilizar as empresas para diversificarmos mais a nossa gama de produtos, nomeadamente trabalhando mais o espumante, sobretudo na exportação, porque é uma categoria que cresce muito e em que, para além das exportações portuguesas serem atualmente muito residuais, cresceram muito menos que o comércio internacional de espumantes”, disse.

Neste momento, recordou o presidente da Viniportugal, a Bairrada é a região vitivinícola portuguesa “com maior notoriedade de espumantes”, mas começa já a ver-se as regiões dos Vinhos Verdes, do Douro e outras a arriscar neste segmento.

“Quando olhamos para o que se passa em Espanha ou em Itália não me restam grandes dúvidas que Portugal tem aqui um potencial que devia aproveitar melhor. Se os outros países conseguem, nós também conseguimos. Temos matéria-prima, agora temos que aprender a fazer bons espumantes”, considerou.

De acordo com Jorge Monteiro, a estratégia de promoção externa dos vinhos portugueses manter-se-á praticamente inalterada em 2016, dados os “bons resultados” que se têm vindo a traduzir em crescimentos homólogos sucessivos das exportações desde 2004.

Este ano, o acumulado até setembro aponta para uma subida de 3,5% em valor das exportações portuguesas de vinho, sendo que, a manter-se este ritmo até final do ano, 2015 encerrará com um novo recorde de vendas “muito perto dos 750 milhões de euros” (726 milhões de euros em 2014).

Segundo a Viniportugal, esta evolução ocorre “à custa de comportamentos muito bons nos EUA e no Canadá, que mais do que compensaram dois mercados importantes para Portugal, mas que estão a atravessar situações difíceis: Angola e o Brasil”.

Em 2016, a novidade acabará por ser a estreia na promoção dos vinhos portugueses na Coreia do Sul, com um investimento de 90 mil euros numa prova e ação de formação em Seul, que a Viniportugal justifica com o facto de ser um mercado que “imita muito o Japão”, onde Portugal começou a apostar no ano passado e cujo investimento vai duplicar em 2016, para os 200 mil euros.

Adicionalmente, a associação tem previsto para o próximo ano “um ligeiro reforço” no orçamento de promoção nos EUA (de 1,65 para 1,8 milhões de euros), “um mercado muito importante, que apresenta muito bons sinais de crescimento” e que pela primeira vez este ano se destacou como “o principal mercado de destino dos vinhos tranquilos engarrafados portugueses”.

“É um mercado que tem justificado o dinheiro que lá se gasta e que merece que reforcemos o orçamento”, considerou Jorge Monteiro, admitindo que o crescimento dos EUA ocorreu “um bocado por demérito do comportamento de Angola”, mas também “muito por mérito” do próprio mercado, cujo crescimento ronda os 16%.

Na agenda de investimento em promoção da Viniportugal para 2016 constam ainda o Brasil (800 mil euros), a China (780 mil euros) e o Canadá (711 mil euros), para além de mercados como a Noruega, Suécia, Reino Unido e Alemanha.

De acordo com os dados da associação, até setembro, incluindo as vendas de Vinho do Porto, a França assume-se como o principal mercado das exportações portuguesas em valor (com compras de 78 milhões de euros), seguido de Angola (incluindo granel, com 52 milhões de euros) e dos EUA (51,6 milhões de euros).

Contudo, fez notar Jorge Monteiro, excluindo o mercado a granel os EUA assumem-se já como o segundo mercado das exportações portuguesas de vinho, ascendendo mesmo ao primeiro lugar se não forem consideradas as vendas de Porto.


Conteúdo Recomendado